domingo, 20 de dezembro de 2009

A opinião divergente que amplia o conhecimento

Já dizia o filósofo Voltaire: "Não concordo com uma palavra do que dizes, mas defenderei até a morte o seu direito em dizê-la". Frase eternizada através da luta ativa pela tolerância, o respeito e a liberdade de expressão, mesmo essas três virtudes não sendo ainda valores universais em nosso mundo mundano e sujo.

Lembrar desse pensamento sempre faz com que nós, seres humanos, tenhamos apropriado ao nosso ser opiniões divergentes, sejam elas atuantes sobre a visão política, o futebol, a arte, ou o sentido da vida, e vindas das mais diversas origens. Do colunista do jornal, do amigo no buteco, da Dona Maria cozinheira ou do seu Zé da padaria.

O exercício diário de ouvir, ler e assistir a essas intervenções causa, de maneira extremamente interessante, a ampliação do nosso conhecimento e, consequentemente, nossa valorização enquanto pessoas. Dentro das discussões desenvolvidas, respeitamos, toleramos e concedemos liberdade. No entanto, sem jamais desistirmos de nossas ideias e ações.

A construção desse raciocínio surge quando se pensa nos enormes benefícios trazidos por meio de cada contribuição dos indivíduos que, de forma rápida e simples ou contínua e complexa, nos mostram meandros das reflexões cotidianas por onde jamais imaginaríamos nos instalar, ou ainda não havíamos arriscado a voar.

Levado a cabo esse pensamento, todo o processo de apropriação se desenvolve de forma espontânea, seguindo os estudos do teórico da psicologia social, Vygotsky, que tratam da ligação entre a história da sociedade e o desenvolvimento do homem.

Para Vygotsky, "a aprendizagem sempre inclui relações entre pessoas. Ele defende a idéia de que não há um desenvolvimento pronto e previsto dentro de nós que vai se atualizando conforme o tempo passa. O desenvolvimento é pensado como um processo, onde estão presentes a maturação do organismo, o contato com a cultura produzida pela humanidade e as relações sociais que permitem a aprendizagem. Ou seja, o desenvolvimento é um processo que se dá de dentro para fora."(Trecho retirado do site http://www.euniverso.com.br)

Toda essa teoria, no entanto, só tem garantido um bom resultado quando vai incluída no seu bojo a livre manifestação dos indvíduos ou grupos. Dessa forma é possível receber as opiniões alheias com tolerância e aplicar o conhecimento adquirido, organizando, instintivamente, a abordagem aos diversos assuntos que fazem parte do dia a dia. Tornamos essa possibilidade real quando, a cada troca de palavras, executamos, mesmo sem intenção, o que aprendemos em um diálogo, leitura ou visão anteriores.

Os dois pensadores citados neste texto não são contemporâneos, nem analisam aspectos do conhecimento humano de maneira semelhante. Suas teorias aplicam-se a diferentes áreas, psicologia e filosofia, e tem alcances inimagináveis que não se resumem às frases postadas aqui. Mas o relacionamento entre cada um desses pontos foi apenas um jeito de tentar explorar a essa experiência no papel(ou na tela do computador), que já venho tendo na prática há bastante tempo.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Morte de uma entrevista anunciada

Acordei bem disposto, tomei banho, aparei a barba, coloquei aquela camisa no corpo e aquele gel no cabelo, todo o estereótipo padrão preparado, chato e infelizmente necessário, visando garantir uma entrevista tranquila para a reportagem da nova revista que começo a fazer.

Indeciso sobre se pegaria o ônibus ou o táxi para chegar até o meu destino, distante pelo menos 9km de onde moro, resolvi pela segunda opção, dado o calor excessivo que me deixaria exposto às ações de minhas excitadas glândulas sudoríparas e a pressa para chegar.

No entanto após dez passos saídos do prédio me lembrei do esquecimento das perguntas já previamente preparadas, estudado o assunto durante mais de duas horas na noite anterior, para não incorrer em cagadas nem enganos.

Volto para o apartamento e na hora de abrir a porta não consigo porque a sua já comprometida fechadura quebra minha chave, e eu tenho de esperar por meu colega de apartamento atender à estrondosa campainha e me ajudar nessa.

Saio em polvorosa e custo a achar o transporte, até que chego em um ponto onde sei sempre está algum de bobeira. Entro feito um maluco e já vou passando as instruções do endereço, sem esquecer de cumprimentar o cara, como de costume.

A conversa flui muito bem, é um profissional gente boa, que se interessa pelo trabalho de seus clientes e suas origens. As risadas e as informações vão tranquilas, mesmo com o trânsito monstruoso ali ao lado, até o maldito celular começar a vibrar e tocar.

Do outro lado da linha, a temida secretária do entrevistado, com voz de sono, me quebra no meio. "Infelizmente surgiu um imprevisto porque o senhor x foi ao dentista e devido a uma anestesia não poderá conversar hoje. Vamos ter de remarcar." Encerra.

Digo logo que tudo bem, abstraio, penso, faço xingamentos silenciosos incontáveis, e desligo logo o telefone para não proferir besteiras. Peço ao camarada taxista que faça o retorno e me deixe em casa, e me despeço com R$20 a menos na mão e um milhão de ideias na cabeça.

Chego em casa, tomo minha gelada e sagrada água, reflito novamente e tenho novamente de abstrair. O trabalho continua em outras frentes - clipagem, livro, assessoria, e o que mais vier, e não é uma falta de atenção em me avisar com antecedência que vai me desestruturar.

Alguns diriam: "Não devia ter saído de casa hoje". Outros gritariam, dariam murros em paredes ou em portas, quebrariam copos ou rasgariam papel, mas eu passei dessa fase grotesca. Estou mais tranquilo do que nunca.

A toada segue e a melodia não pode parar. Mesmo que haja sempre algum descompasso de um instrumentista insistente em errar.

A entrevista foi como Santiago Nasar, do livro Crônica de uma morte anunciada, de Gabriel García Márquez. Já sabia de seu bater de botas antes de acontecer.

Mas não descansarei para ficar remoendo e chorando o falecimento. Antes que a ressuscite, vou me ocupar com aquelas que continuam vivas.

domingo, 22 de novembro de 2009

Guerra entre Colômbia e Venezuela sai do papel

Apesar das informações ainda desencontradas e da falta de cobertura da grande mídia brasileira e internacional, parece que finalmente Colômbia e Venezuela vão deixar de lado as ameaças e partir para o conflito aberto.

Pelo menos é o que pensa o presidente venezuelano Hugo Chávez.

Depois de pedir a seus compatriotas para "se prepararem para a guerra" no último dia 09/11, e remediar a declaração dizendo que "os militares venezuelanos são pacifistas e nos preparamos para a guerra para assegurar a paz, foi isso o que eu disse domingo", dois dias depois, ele informou ontem, em cadeia nacional, às 10hs de Bogotá, que a Venezuela está oficialmente em Guerra contra a Colômbia. As informações são da jornalista Andressa Gasparelli, que está na Colômbia.

O comunicado, no entanto, não apareceu do nada.

Segundo notícia postada no site da CaracolTV, da Colômbia, a Venezuela admitiu ter explodido duas pontes na região de fronteira, por acreditar se tratar de um acesso utilizado por narcotraficantes. Uma terceira ponte também teria sido destruída.

Ainda segundo a notícia, o presidente colombiano, Álvaro Uribe, afirma estar fazendo esforços para evitar qualquer conflito armado, apesar de afirmar categoricamente que vai denunciar a Venezuela na OEA e na ONU pela invasão de território e por atentar contra os direitos humanos dos civis que vivem na região.

Em declarações à TV Estatal da Venezuela, o vice-presidente venezuelano, Ramon Corrizález, afirmou que nenhuma lei internacional foi violada porque não houve agressão alguma, tampouco invasão de território.

Disse também que o governo vizinho está manipulando as informações sobre o acontecimento, uma vez que elas escondem o verdadeiro incidente, que na visão dele é a Colômbia ter se tornado uma "base militar ianque".

Uribe, que recentemente assinou acordo de cooperação militar com os E.U.A, e Chávez, que tem nos estadunidenses seus maiores compradores de petróleo, devem agora, depois de incessantes e contínuos desacordos de interesses econômicos, políticos e em qualquer outra esfera, colocar seus poderios bélicos à prova, enquanto que o país detentor do total foco nessa região ainda não se colocou oficialmente sobre o caso.

Até o momento não se materializou nenhum confronto de fato, envolvendo exércitos, metralhadoras, helicópteros e o que mais for conveniente ao uso dos dois irresponsáveis países, cada qual com seu pensamento, Pró-Ianque ou Bolivariano. Mas a notícia das pontes explodidas é real, e todas as frases proferidas por cada governo também. Só não se sabe até que ponto a frágil diplomacia latino-americana poderá contribuir para evitar mortes desnecessárias.

Não bastasse o irremediável descontrole das palavras e das ações que devem culminar nessa guerra, o Vulcão Galeras, localizado em Ipiales, única rota segura de saída da Colômbia para o Equador, entrou em atividade às 03:00 h da madrugada, "cuspindo lava e cinzas em todas as direções, fazendo com que as autoridades começassem a evacuação de cerca de 300 mil pessoas de cidades e áreas próximas", segundo relata Andressa.

Para quem está viajando pela região ou pretende chegar em breve, é preciso muito cuidado. A jornalista afirma que grande parte das estradas colombianas já está militarizada após a destruição das pontes e as declarações de Chávez e de Uribe.

A questão é saber qual a real amplitude de toda essa conjuntura, afinal o Brasil, insistente em apaziguar os ânimos dos dois, também já tem área de fronteira coberta de militares colombianos e não deve permanecer inerte, seguindo a sua "nova ordem geopolítica".

Em reportagem deste domingo, na Caracol TV, Chávez disse estar sendo elaborada uma "grande operação midiática" para colocá-lo como "quem está preparando uma guerra".

Na visão do presidente venezulelano, quem está sendo agredida é a Venezuela. Isso porque o acordo Bogotá/Wasington seria mais um golpe do imperialismo contra o país, uma vez que a Colômbia serviria de plataforma para ataques oriundos das ordens estadounidenses, tendo a Venezuela como "alvo número um".

Em meio a todas essas respostas atravessadas, a Venezuela sofre com o racionamento de água. Também há rumores sobre o corte do fornecimento de gás por parte da Colômbia ao país, e de energia elétrica ao Equador, governada por Rafael Corrêa, aliado de Chávez.

O governo colombiano nega.

E a parte fria que cabe à guerra, na cabeça dos indivíduos, se mantém. Por enquanto.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Sobre aquele que se esvai apenas no pensar

O congestionamento faz dele um refém, ente querido sequestrado sem preço de resgate estabelecido nem previsão de entrega em caso de pagamento.

As filas dos cartórios, correios, bancos e muitas outras instituições burocráticas transformam-no em mero espectador, fazendo dele obra da paciência e da corriqueira sustentação das pernas e da cabeça.

O esquecimento de chaves nos carros de amigos, celular no automóvel da chefe e outras perdições cotidianas delimitam sua existência a resquícios de oportunidades aproveitáveis.

Depois de todas essas descrições verdadeiras da passagem deste delimitador da vivência das pessoas, paramos para organizar as ideias e nos damos conta de como ainda existem muitos outros empecilhos que ajudam-no a esvair.

O principal deles sem dúvida é o trabalho, de onde sim tiramos nosso sustento, porém lugar muitas vezes pouco produtivo para a fermentação de ilustres pensamentos.

Independente de todas essas condições adversas, nós, seres humanos mortais e pouco nos preocupando com essa imensidão de perdas, sempre nos contentamos com nossos vangloriados feriados, folgas ou faltas forçadas.

Quando somos sistemáticos e resolvemos calcular cada segundo jogado fora sem que pudéssemos nos apropriar de alguma experiência, percebemos o quanto poderíamos torná-lo mais chegado.

E ficamos pasmos em descobrir que dentro da porcentagem mínima dessa vastidão somos felizes por dizer que fizemos de alguns dos nossos dias uma forma concentrada do ser.

Enquanto procuramos nos computadores, relógios e sinos de catedrais, ele já partiu, e deixou-nos a lembrança de que jamais pode ser abandonado.

Tempo, tempo, tempo! Te amo e te odeio! Nunca me deixe faltar, mas também não me faça mais perder, em intensos devaneios!

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Quando da simplicidade enquanto provedora da alegria

Franguinho na panela, brincadeiras, sorrisos, historias e conversas intermináveis sobre a vida e tudo o que dela brota e se espalha.

Um forasteiro encantado com a recepção calorosa, insistente querendo permanecer, e por ter passado ali curtas 24 horas, ansioso para voltar e ter mais experiências sensacionais.

Simpática cidade mesmo com os motoqueiros que nao usam capacetes, os carros que extrapolam no som e a falta de uma festinha justo no fim de semana em que eu a conheci.

Mas um espaço onde a simplicidade das pessoas, muitas delas nascidas ali e que valorizam a terra onde cresceram, trouxe uma sensação de alegria incrível, há muito não experimentada.

Sim, as mulheres são belas, inteligentes e unidas, e a cerveja gelada, bem servida e acessível, porém foram outros e inúmeros os motivos que junto destes me fizeram dizer aos nativos o quanto me sentia bem e agora manifestar tal admiração através do blog.

Motivos inexplicáveis e indescritíveis que somente pode sentir quem por lá passou.

Nao se trata da Passárgada de Manoel Bandeira, nem do Lugar do Caralho de Raul Seixas, mas da Santo Estevão de santas, mães, flertes e amizades surgidas como mágica.

Se demorar a visitá-la novamente, é porque estou empenhado no projeto de arrastá-la geograficamente para se avizinhar a Salvador.

Como essa medida de grande porte leva um trabalho razoável, por enquanto vou me contentar em deixá-la no mesmo lugar e me mover sempre que surgir uma chance.

Obrigado pessoas de Santo Estevão, por toda a felicidade que me trouxeram e ainda quero que tragam! Ficam as saudades...

sábado, 24 de outubro de 2009

Particularmente público

"Vem, pode vir, devagar. Mais pra esquerda. Isso. Externa tudo, externa tudo. Pronto"

Parece aula de baliza mas na verdade se trata das expressões utilizadas pelos guardadores de carros, cada vez mais presentes nas grandes cidades em busca do seu trocado.

Enquanto o motorista reserva algumas moedas, eles rapidamente se concentram em chamar pelo "cliente" seguinte, mesmo sendo alguém apenas de passagem pelo local.

Divididos em pontos estratégicos, encontram vagas onde elas teoricamente inexistem, fazendo um serviço informal que não necessariamente precisaria acontecer.

O trabalho, comum sobretudo nos finais de semana, quando um sem número de automóveis se espremem nas diminutas ruas e vielas próximas a bares, restaurantes e pontos de encontro, serve de tapa-buraco para os contínuos problemas de estacionamento das metrópoles.

O questionamento que surge se concentra na confusão feita entre o público e o privado.

No caso, começa a partir do suposto direito que cada um desses meninos, rapazes e senhores adota para controlar a entrada e permanência dos bólidos nas vias, ganhando dinheiro para "cuidar" dos mesmos.

Continua porque, ao mesmo tempo, autarquias e empresas responsáveis pelo trânsito permanecem inertes, juntamente com os profissionais do planejamento urbano que deixam de transformar esses gargalos conglomerados em um local aprazível.

Ainda permanece na vertente dos particulares. Despreocupados, grande parte dos motoristas continua fazendo questão de ir com o carro próprio ao local, mesmo sabendo que pode ficar sem ter onde colocá-lo devido aos empecilhos citados.

A partir dessa perspectiva, fica a preocupação.

Se a rua, pública, está dominada por pessoas desempregadas que vêem ali uma chance de se aproveitar particularmente, enquanto que quem devia tomar conta do espaço ou remanejá-lo com verba pública nada faz e nem se preocupa em regulamentar esses caras, de que forma o particular, motorista ou passageiro, deveria proceder?

No momento, continua se rendendo, dando qualquer valor ao guardador. Ambos saem "felizes".

A longo prazo, se reeducando. Levar dois ou três amigos no carro tem muitos benefícios. Cada noite se reveza quem bebe e quem dirige, economiza-se combustível, diminui-se os carros na rua e, de quebra, ainda se conhece melhor pelas conversas antes de chegar ao buteco.

Para agora, e de maneira urgente, se reclama. Exija mudanças! Chega dessa sequência de erros virando bola de neve! Reorganização urbana na pauta. Mas de nada adianta ficar apenas nas palavras. Se mexer e ajudar do seu jeito leva consciência.

Contribua para o bem público, e ganhe o particular de brinde!

De um cara sem carteira de motorista e que mal sabe dirigir, mas nao aguenta mais assistir como passageiro a essa putaria diária!

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Spare me the lecture!

Não, o blog não mudou de língua. O título em inglês, traduzido como: "Me poupe do sermão!" vem apenas introduzir o assunto destaque de hoje, ou que deveria ser, o Dia do Professor.

E por que poupar do sermão?

Em todo o país, alunos fazem homenagens, diretores elogiam, prefeituras concedem prêmios.

Esparramados por alguns pontos, parte dos educadores protesta por condições de trabalho dignas. Na capital paulista, ficam nus para mostrar a real calamidade em que se encontra a classe. Em Porto Seguro, queimam pneus e marcham para pedir agilidade nas investigações do assassinato covarde de dois membros do sindicato local.

Enquanto eles tentam insuflar a rebelião, continuam em voga as reformas desestruturantes, completos retrocessos na educação brasileira, tais como a progressão continuada em São Paulo, as enturmações na Bahia, e a volta da adesão ao ensino religioso nas escolas do Brasil inteiro.

Nos prédios de inúmeras instituições de ensino, placas de zinco, barro e tijolos maltrapilhos tentam de alguma forma manter o local de pé. Dentro das salas de aula, cadeiras quebradas, falta de limpeza e inexistência de material didático complementam a situação deprimente.

Não bastasse todas as condições adversas para trabalhar, tanto as de ordem ideológica e pedagógica como as de organização física do ambiente escolar, nossos professores ainda tem de se submeter a salários de fome, que só se multiplicam porque se dedicam a jornadas duplas e até triplas para ensinar, corrigir provas, preparar aulas.

Muitas são as oportunidades em que se tornam os pais dos filhos de todos, porque estes de casa não vem preparados para aprender, e sim totalmente incipientes em qualquer aspecto educacional. Além de mostrarem as ciências, a geografia e a matemática, ainda tem de dar conta da etiqueta, do respeito e dos limites de cada indivíduo.

Quando o aluno não vai bem, são os primeiros culpados. Com o bom desempenho da galera, os últimos a serem parabenizados. Se não por quem depende diretamente deles, por aqueles que os consideram heróis de uma causa perdida. E que se continuar com esse tratamento, vai se perder mesmo.

Esta causa maior é a educação. Sempre lembrada nos discursos de políticos em campanha, idem nas propagandas de bancos e ong's como maior patrimônio que uma pessoa pode ter. E que cuidado existe com esse patrimônio, jogado às traças, abandonado sem a menor perspectiva?

Como não, anúncios de muitos investimentos públicos e privados, com a participação especial do terceiro setor para possibilitar a distribuição da verba?

Poupe-me do sermão! Eu quero ver o sistema funcionar.

Chega de discurso bonitinho e de postura superficial!

Porque enquanto quem mais se importa com a educação continuar relegado à sarjeta, cada vez mais o dia 15 de outubro vai ter, ao invés do ode ao conhecimento, o lamentar em relação à circunstância periclitante pela qual passam esses profissionais, eternos na sua luta, mas com prazo de validade na paciência para com esse caos.

sábado, 10 de outubro de 2009

Embalos musicais de condomínio - Sem cortes

No momento em que escrevo este post, uma festinha animada rola na área de lazer do Prédio onde vivo em Salvador.

Felizmente ou não, as canções entoadas nela deram a idéia para que pensasse ou tentasse entender, mesmo sem conhecimento técnico, teórico ou prático do musicar, porque em toda bendita celebração desse naipe se tocam sempre as mesmas coisas.

Ou porque não contentes, os artistas de ocasião ainda destroçam músicas belíssimas com suas toscas performances.

Acabei de ouvir vindo dali um cover de Moraes Moreira, grande cantor e compositor, chutado numa repetência desafortunada de Anunciação. Tudo no tecladinho, nada de violão ou percusssão, pra que?

Antes dele, Armandinho(Quando Deus te desenhou, ele tava namorando...haja paciência), Skank, Lulu Santos, e claro, como não poderia deixar de ser, a clássica Whiskey a Go Go, típica de formaturas e sempre irritante originária de um tal Roupa Nova.

Devem seguir a elas uma quase nunca tocada Chão de Giz, não sei se pensada como Elba ou Zé Ramalho, mas executada como se fosse Banda de Churrascaria vazia.

Uma mania insistente de misturar alhos com bugalhos, querer criar um ambiente agradável para comemorar o que der na telha através de trilha sonora chamada de "MPB".

Paro para pensar, reflito e disparo. Será culpa dos pobres tocadores de qualquer coisa que insistem em usar como base para seus shows particulares essas composições de maneira inadequada e incoerente?

Ou é a música brasileira que precisa se reinventar e descobrir novas experiências para que não sejam sempre as mesmas canções a serem lembradas na hora de esses relapsos ensaiarem para o baile do prédio?

Porque quem acompanha não tem nada a perder. Tá ali nos seus uísques, cervejas e dancinhas desajeitadas. Apenas seguem o ritual como cordeirinhos.

Enquanto tento encontrar a resposta, começa a Sessão Jovem Guarda, com Robertão tomando a frente nas mais roqueiras e também românticas. Muito respeito nessa hora!

E daqui a pouco vem o brega. Está formada a salada. Para quem achava que ficar em casa no sábado à noite era perder uma balada, eu não gasto um centavo e curto um bailão que continua bombando.

Encerrando por aqui em grande estilo com o mestre Fábio Júnior. "Demorei muito pra te encontrar, agora eu quero só você" e seu fiel discípulo Richie. "Meia noite no meu quarto, ela vai subir". E o nível, descer mais ainda.

domingo, 4 de outubro de 2009

Notícia velha

Gostaria muito de fugir da temática relacionada à violência urbana.

Tratar de discussões relacionadas às olimpíadas no Rio de Janeiro, a morte de Mercedes Sosa ou o golpe em Honduras. Tão amplas e importantes quanto.

Porém um acontecimento recente que envolveu este blogueiro acabou por determinar a escolha da pauta na frente em que se colocaram as duas postagens anteriores.

Tive a carteira roubada. Nela estavam documentos diversos, R$10, cartões, entre outras coisas existentes em qualquer carteira.

O local foi o show do Capital Inicial, de graça na Praça Castro Alves, realizado no domingo passado. Antes, Pepeu Gomes e banda local.

Nem bem começou a primeira música dos caras, apareceu uma mão em meu bolso que não teve como ser segurada. E lá se foi o prejuízo.

Perdi o show, a carteira, a chave de casa, a calma, e quase a dignidade. Com a ajuda de um amigo, consegui um lugar para dormir e o dinheiro do "busão" pra voltar pra casa.

Policiais consultados. "Aqui não é lugar para trazer carteira". "Procure a delegacia do turista" - a pé, claro, 15 minutos até chegar a Deltur do Pelourinho.

Destaque do Jornal A Tarde da segunda, o show foi ovacionado, e citado como "sem registro de incidentes". Ahn!? Incidente não, crime oras, que m... de lei é essa?

E não fiquei sozinho. Na delegacia, logo depois de mim chegaram mais dois com o mesmo problema vindos do mesmo lugar. Claro, não houve qualquer incidente - deve contar apenas assassinato. Ou prisão de um rapaz que fuma maconha, como foi o caso da semana anterior no Parque da Cidade, quando do show da Banda Retrofoguetes. Esse o jornal citou.

Lá também fui com minha carteira.

Na mesma noite do furto, de outros pontos da cidade, apareceram na Deltur duas médicas argentinas vítimas de tentativa de assalto com um espeto de churrasco, e um deficiente físico roubado por dois marmanjos e uma adolescente. E o escrivão respirando fundo no aguardo por uma noite longa, que estava apenas começando.

Bizarro!? Não! Normal. Comum. Típico. Característico.

Quem pegou minha carteira, além dos R$10, não levou mais nada. Documentos e cartões cancelados na hora. Deve ter jogado no chão e sumido com o dinheiro.

Bom proveito deve ter feito. Para mim seriam mais três cervejas, uma bobagem. Mas e quanto a RG, CPF, cartão de banco, cartão de ônibus, alimentação?

Perde-se tempo para fazer de novo, paciência nas filas, mais dinheiro para pagar as multas, atrasos em contratos e projetos. Mas o errado era eu, de levar a carteira no bolso, claro.

Para que um efetivo policial de 80 membros em um show? Segurança? Só pompa e muita desinformação. Agora a responsabilidade é minha, que deixei de guardá-la na cueca.

Sou apenas mais um? Muito pelo contrário. Sou um brasileiro, que de qualquer classe social, não tem mais cabeça para enfrentar esse horrendo espetáculo diário.

Pelo menos consigo me expressar. Não sei se corretamente, devido ao espaço de uma semana entre o acontecimento e o texto, mas sistematizando o que foi esse pesadelo.

O também blogueiro Paulo Sakamoto disse certa vez numa palestra que para perceber a realidade que a cerca uma pessoa precisava ser vítima de um assalto.

Coincidentemente, na noite anterior eu havia sido. Um garoto de no máximo 11 anos de idade pulou do meio do mato me ameaçando com um revólver.

Muito engraçado não? Pelo menos foi o que toda a sala que assistia ao relato dele achou.

Não sou dono da verdade. Nem conheço a tal "realidade" como a apregoada nesse exemplo. Só quero deixar de ser, assim como todas as vítimas cotidianas da violência, uma voz que não ecoa.

Minha família não é abastada. Não ando com roupas de grife nem tenho vida de conforto. Trabalho como qualquer um, mas não vou ser mais estatística como qualquer um.

Venho mostrar, nessa experiência infelizmente in loco, que enquanto governo, imprensa, polícia e outros setores continuarem se omitindo, a tendência desses casos é só aumentar.

E vão crescer alcançando não só a "elite". Qualquer um que saia na rua já é um potencial furtado, roubado ou assaltado.

"Você precisa de alguém, que te dê segurança, senão você dança", já dizia a letra da música. Dancei, desajeitado, e não recomendo o passo ensaiado a ninguém.

sábado, 26 de setembro de 2009

Ônibus 174 versão 2009

O Rio de Janeiro continua o palco principal do show midiático da polícia e dos criminosos. É o verdadeiro Big Enemy, onde a eliminação pelo concorrente custa a perda da própria vida. Para quem mata, a fama.

Nove anos, dois meses e 13 dias depois da seqüência dramática da morte da professora Geisa dos Santos, quando ela era refém do ex-menino de rua e assaltante do ônibus da linha 174 Sandro Barbosa do Nascimento, ontem foi a vez de um novo episódio da saga na carnificina carioca.

Câmeras postadas, luzes acesas, microfones ligados. Tudo pronto para acompanhar mais uma tragédia brasileira. Ao vivo, como não!?

No roteiro, Sérgio Pinto Júnior, 24 anos, foi morto por um atirador de elite após manter refém a comerciante Ana Garrido, o dobro de sua idade e o quádruplo de terror perante a granada que o rapaz ameaçava explodir.

Antes disso, ele tentara assaltar uma kombi dos correios, quando já havia sido baleado na barriga. A cena terminou com a multidão aplaudindo, após o tiro certeiro que matou Sérgio e preservou Ana, final bem diferente do programa anterior.

A granada permaneceu intacta.

O assaltante de ontem não é um sobrevivente da chacina da Candelária, como o era Sandro, que ainda garoto escapou por pouco das investidas de policiais criminosos e sete anos depois despejou sua fúria sobre uma inocente.

Geisa, grávida de dois meses, foi vítima de um tiro que partiu da polícia. Já Sandro morreu em circunstâncias estranhas, supostamente asfixiado no camburão.

A respeito de Sérgio por enquanto só se sabe que tinha ligações com criminosos, fora preso duas vezes, e segundo a refém não queria estar na cadeia de novo.

De diferente nas duas histórias, a presença cinematográfica de um herói e do que tentou ser, mas errou. Ontem, o Major João Busnello, ex-BOPE, sniper, que alvejou o assaltante com sua “visão privilegiada e mira telescópica”.

Lá no ano 2000, quando o atirador não agiu, o soldado Marcelo Oliveira decidiu por si só se mexer, e o resultado do balaço da sua 9mm foi trágico. Mesmo absolvido junto com os colegas dois anos depois, ele ainda deve carregar o peso da morte de Geisa.

Mas quem constrói o heroísmo é a nossa imprensa, com suas técnicas apuradas para convencer quem assiste, lê ou escuta. Não precisamos de heróis ou vilões, queremos ação e uma vida digna, apontar e construir soluções a médio e longo prazo.

Marcelo, João, Sandro, Sérgio, Geisa, Ana. Seis personagens, cada um de uma origem, escalados para atuar em um filme que queremos parar de assistir.

Outra forma de ver o acontecido: http://modestocabotino.blogspot.com/2009/10/para-ingles-ver.html#links

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Violência gratuita

Notícias veiculadas em jornais, rádios e emissoras de tv de Salvador e de todo o Brasil quando dos incêndios de ônibus coletivos na cidade, ações colocadas em prática a partir do tão flamejado 7 de setembro, ainda despertam a atenção.

Polícia e governo adotaram a versão oficialesca, ratificada pela imprensa local, de que os ataques foram motivados exclusivamente pela transferência do traficante Cláudio Eduardo Campanha para o Presídio de Segurança Máxima de Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul.

Mas quem vive em bairros humildes da capital baiana tem um conhecimento diferente sobre o caso. Representantes de movimentos de contestação na periferia confirmam que a ação dos incendiários já era esperada por outro porém, também visto nas cadeias.

O pavio acendeu a partir das péssimas condições em que se encontram os detentos nos presídios do estado, segundo um Coordenador de Associação de Amigos e Familiares de Presos.

Pagar a pena pelo crime cometido, ser reeducado e reintegrado à sociedade sim. Viver engaiolado e espremido, sem condições de higiene, alimentação e sociabilidade, não.

Que a incomunicabilidade e a indisponibilidade do traficante para com seus companheiros de fora da prisão foi o estopim, não há como negar.

Mas omitir a informação de que os centros de detenção da Bahia e do país deterioram ainda mais a vida de quem adentra as grades, é esquecer da principal função dessa tão recalcada mídia. Defender o interesse público.

Pobres são as pessoas que pegam o transporte com medo, sem saber de que, e não compreendem de onde parte tamanha violência. Simples como um espelho. Ela reflete aquela que lhe é cometida. Só que a única a aparecer é a reação, o ônibus em chamas, nesse momento.

Enquanto a imagem de origem, absurda e incompatível com uma sociedade dita democrática, permanece fora de foco, ignorada completamente pelos que tem de lhe trazer a nitidez.

Créditos
Imagem 1: Estadao.com.br
Imagem 2: Radiosociedadeam.com.br

Escancarando os trabalhos

Depois de inúmeros papos com um grande amigo decidi, enfim, colocar o blog "no ar". Desde os tempos em que iniciei a faculdade - e lá já se vão mais de cinco anos - sempre considerei esse espaço virtual um antro de pseudo-intelectuais.

Pensava que inserida nele minha contribuição, devido ao excesso de masturbadores do intelecto, seria colocada na vala dos comuns, independente das considerações a respeito de qualquer pensamento, opinião ou assunto que fosse abordado.

Entretanto, devido ao grande período em que permaneci hibernado, vítima das rédeas do mercado de trabalho jornalístico tradicional, observei na oportunidade do diálogo com o camarada a faísca que faltava para explodir e criar o Combustão Instantânea.

Sim, os que se consideram dotados de poderes supremos no universo cibernético, e que matam a sede em Wikipedia e orelhas de livro seguem existindo, mas parece bem possível e viável vir aqui quando der vontade e ferver as idéias sem me preocupar com eles.

A proposta do blog é bem clara. Escrever de maneira incisiva, e não resumir as palavras ao estilo intimista e demagogo. Nada de militância, tudo de discussão a portas abertas, e mais ainda de incentivo a ações espontâneas de libertação das pessoas, em qualquer esfera.

Esse não é o meu blog. É o nosso!