terça-feira, 23 de março de 2010

Réquiem para uma UNESP sem sonhos

Minha terça-feira à frente do computador surpreendeu em rendimento como há muito não acontecia.

Ao ler o e-mail do amigo eterno Bruno Terribas, jornalista e petroleiro afeito às boas novidades dos movimentos sindicais e estudantis e também das viagens pelo Brasil, me deparei com a indicação, já provida do devido comentário capcioso, de um vídeo de rap elaborado por alunos da UNESP de Bauru, onde por quatro anos e meio investi meus conhecimentos, amores e amizades.

O clipe, disponível no endereço http://www.youtube.com/watch?v=qwPUXDvrQF4, de 3'18" tem à sua frente alunos e ex-alunos dos cursos de Rádio e TV e Jornalismo, tanto cantando quanto dançando sob as batidas eletrônicas e frases prontas do MC Very D. Cool, antigo vocalista de uma banda de rock que eu até gostava de ouvir nas festinhas de república.

Sob o "rap universitário da quebrada", aparecem versos repetitivos sobre os momentos de devassidão vigiada dos unespianos placebistas, com os vídeos correspondentes incluídos.

Traduzindo para uma linguagem mais própria, se endeusam momentos como o INTERUNESP, "torneio esportivo", digo, desculpa esfarradapada pra beber e azarar até cansar de maneira superficial, em termos de sua amplitude como ser considerado o maior encontro de universitários do Brasil, em busca de desejos reprimidos que, segundo a música "filho chapa a mãe não vê, filho vai pro Interunesp mãe acha que tá tudo bem".

Nossa! Como eles são bêbados, drogados, loucos, fazem sexo sem parar, e os pais nem sabem, ora essa! As mulheres de Franca mostram a bunda, outras correm nuas ao lado dos homens, eles caem pelo barranco bêbados virando cambalhotas! Quanta perversão! Eu não acredito que exista isso na UNESP! Ah! Mas só no Interunesp. Se você nunca participou é um perdedor, não aproveitou a faculdade. É um carneirinho perto de nós fodalhões!

A música segue a lógica de tentar se encontrar, nesses nichos de curtição, o máximo que um membro da universidade poderia ter, a última bolacha do pacote da história, ainda com o agravante de se dizer que Bauru é o melhor campus, e toda aquela pasmaceira e babaquice imbecil que fica se proliferando nos discursos vazios de quem tem a necessidade de acirrar esse ranking do melhor por nada.

Quem frequenta esse tipo de festa - eu inclusive já fui, em meu primeiro ano, está pouco se fudendo com isso, apesar de alguns demonstrarem, muitas vezes com brigas, xingamentos, e músicas, como as tocadas por baterias de cada uma e agora invariavelmente iguais nesse rap, a sua ânsia por ser mais e melhor, só sem estabelecer o critério para comparação sobre o que, como se fosse inerente ao contexto.

Há ainda claro, como não poderia deixar de ser, a afirmação da República própria enquanto lugar dos "manos sangue bom", onde se vive também só curtindo. Não me espantou no ano passado a campanha de premiação de uma empresa de bebidas com uma geladeira lotada de cerveja para a República que fosse votada como a melhor da cidade, e que claro massageou o ego como ninguém poderia mais, colocando mais uma vez o comportamento pouco significante dessas pessoas como o supra-sumo do exemplo de "quem é que manda na UNESP".

De boa mesmo. Cada um curte o seu momento, vive a sua vida de universitário. Tem as suas horas de festa, muitas na verdade, em que faz o que bem entende e pouco se preocupa com o que os outros pensam dele. Qualquer um já teve um porre e a consequente ressaca, transou com alguém ou mais uma dúzia de gente, fez um monte de merda e riu, diante da própria idiotice. Mas tem assim tanta necessidade de aparecer e querer provar que é o melhor nisso e que continua sendo o loucão? Espalhar aos quatro cantos e ficar se vangloriando, de que?

Tudo absolutamente normal, natural a qualquer um que adentre esse meio. Muitos são mais pudicos, conservadores, ficam na sua e não entram nessa onda por escolha própria. Agora porque é que temos de, mesmo após 2 anos longe da universidade, continuar a assistir o mesmo espetáculo deprimente, tonto, simplesmente isso, contando as peripécias universitárias como se, fora desse ambiente de baterias e atléticas, ninguém fizesse nada demais.

Em uma outra análise, o camarada Bruno, mais preocupado com a produção do vídeo, acredita que esse "é o caos que avança pelos últimos "redutos" de produção político-cultural até então relativamente independente do domínio do capital. Para ele, a tendência de se criarem gêneros (ou nichos de mercado) ditos "universitários" (ainda que nada tenham a ver com o conhecimento) faz com com que pessoas como essas vejam aí uma possibilidade de surgirem como "novidades", por mais forçado e ridículo que fique o resultado final".

Ridículo é pouco. E pior ainda é ver, no vídeo, várias pessoas que conhecia participando com toda a empolgação. Algumas delas até bem próximas do meu círculo de amizades, o que eu lamento profundamente. Sei que vão dizer que era só uma brincadeira, que eu levo as coisas muito a sério, mas não, não tenho como voltar atrás agora e compreender.

Encontrei-me com uma delas no início da noite, via internet, e a pessoa me explicou que o clichê exagerado foi justamente usado para fazer um vídeo engraçado, que ironizasse a atitude unespiana, e que apenas se o intento dos realizadores fosse sério é que minha crítica teria fundamento. Perguntada se aquilo, apesar de brincadeira, não tinha um fundo de verdade, ela não respondeu. A internet da pessoa caiu, sei lá.

Torço mesmo para que tenha sido esse o objetivo, mas até que provem o contrário, desejo meus pêsames! Unesp, sem sonhos, ouça o seu réquiem e durma em sono profundo!

E quem achar esse vídeo engraçado por favor me avise!