sábado, 26 de novembro de 2011

Adolescentes pobres são condenados por cabular aula em São Paulo

Crédito da foto: Abu Mendes/FolhaPress

A Prefeitura da Ditadura Fascista de São Paulo agora não dá trégua nem às crianças e adolescentes que matam aula nas escolas públicas da rede municipal.

Com a ajuda da PM, sempre ela, da Guarda Municipal e pasmem, do Conselho Tutelar, começou a abordar, revistar e anotar nomes e documentos dos menores encontrados em parques do Itaim Paulista, bairro da zona leste da capital.

Fez bloqueios policiais em todas as saídas desses espaços, que a princípio são destinados ao lazer dos jovens.

Depois de colocar os meninos em fila como se fossem suspeitos de cometer algum crime, levou-os amontoados de volta aos colégios dentro de kombis.

A desculpa é evitar a evasão escolar e reduzir o consumo de drogas, que parte desses estudantes teria acesso facilmente, segundo a polícia.

Dados da Secretaria de Estado da Educação mostram que a média de evasão caiu de 12,1% no ensino fundamental e de 26,5% no ensino médio para 1,5% e 5,4% entre 1986 e o ano passado.


A Subprefeitura da região afirma que a decisão foi tomada após o Conselho Comunitário de Segurança relatar reclamações de moradores sobre meninos e meninas que, além de ter o acesso aos entorpecentes, bebiam e faziam sexo em público. Conversa fiada.

Dentre as mais de 50 abordagens feitas no Parque Chico Mendes, apenas duas pessoas, uma delas maior de idade, foram pegas com maconha, não revelada a quantidade, e levadas à delegacia.

Outros 25 meninos foram liberados por não haver espaço nos veículos, e 23 meninas deportadas de volta às escolas pelo crime de matar a aula, sem chances de defesa para a vítima.

A desculpa esfarrapada de proteger as crianças do mundo das drogas começa a cair por terra quando o próprio subprefeito do Itaim Paulista, Sergio Payão, aliás tenente-coronel reformado da PM, diz que sem as garotas no local os rapazes vão embora.

Não é preciso ler nas entrelinhas que o que as autoridades autoritárias da cidade querem na verdade é reprimir o único momento de lazer, divertimento e porque não prazer desses adolescentes de um dos bairros mais pobres de São Paulo.

Agora não se pode mais namorar dentro do parque porque se atenta contra os bons costumes de uma sociedade mesquinha que esquece da péssima qualidade das escolas públicas e condena os estudantes que não suportam ficar dentro da sala de aula.

Essas crianças e adolescentes são forçados a retornar aos "estudos" pela pura incompetência da administração municipal em tornar esses centros de ensino espaços de aprendizado, cultura e esporte condizentes com os desejos dessa molecada.

Fossem os colégios realmente aprazíveis e dotados de uma educação libertária, os estudantes aprenderiam a usar camisinha ao fazer sexo e não evitá-lo nessa fase da vida, seriam orientados sobre os anticoncepcionais e pílula do dia seguinte, e conheceriam a respeito da tão temida temática do aborto, apesar de sua criminalização pelas leis, tornando-se assim adultos com melhores perspectivas econômicas e sociais sem uma gravidez ou doenças indesejáveis.

Eles são filhos de trabalhadores de baixa renda, quando não desempregados, que não têm qualquer acesso a cinemas, teatros, shows e sequer um clube de bairro onde exista uma piscina e uma quadra para passar o tempo e se divertir.

Seus dramas diários em uma casa esfacelada pela fome, as brigas familiares, e os diversos hecatombes sociais que podem atingir um lar miserável talvez seriam ao menos apaziguados pelos carinhos de uma amizade colorida, mas nem isso mais eles podem ter.

Ao invés de melhorar a educação pública, a Prefeitura prefere disfarçar sua incompetência caçando adolescentes "assanhados" e com suposto potencial de uso de drogas na cidade.

Garanto que virão a público novamente os arautos da moralidade defender essa ação policial verdadeiramente criminosa, e ainda vão reiterar que ela precisa ser acompanhada de outro absurdo que é o toque de recolher adotado em muitas cidades do Brasil.

Os mesmos conservadores que bradam pela opressão do direito básico de ir e vir de crianças e adolescentes pobres são aqueles que reclamam dos altos índices de criminalidade e colocam a culpa na "safadeza das pessoas sem instrução em ter filhos de baciada".

Chegam ao ponto de defender o controle de natalidade e são apoiados por parlamentares de sua laia que tentam aprovar leis que cada vez mais cerceiam as liberdades fundamentais do ser humano e o colocam em situação periclitante para sobreviver com dignidade.

Garanto que os mesmos safados não vêem problemas em seus próprios filhos alimentarem a prostituição em boates de executivos, que tem em seu elenco garotas da periferia angustiadas pela ausência de qualquer futuro melhor.

Enquanto viver sem a intervenção do estado for considerado criminoso, por mais que a evasão escolar não seja benéfica, devemos nos preocupar com as próximas ações que atentem contra nossas próprias intimidades, que prometem ser piores que as da Idade Média.

Ao menos a Defensoria Pública já se mostrou contrária à atitude na esfera da lei, por ser considerada coercitiva e inconstitucional. Mas é preciso bem mais que regras instituídas para resolver a paranoia da administração pública.