sábado, 6 de novembro de 2010

O líder da tropa contra a elite?



Nascimento na versão institucional
Crédito da foto: Alexandre Lima

Uma das primeiras sequências da história do cinema em que o conteúdo analítico e extremamente crítico da obra de continuação de uma saga pulveriza por completo - senão deixa no esquecimento, os jargões dos personagens utilizados no primeiro filme, que tiveram enorme apelo popular.

É a "Tropa de Elite 2", novo longa-metragem de José Padilha.

"O inimigo agora é outro" - subtítulo que ilustra o enfrentamento do Coronel Nascimento e da sociedade brasileira - policiais e políticos corruptos, além das milícias e dos grupos de extermínio, torna os traficantes meros "Zés", pobres coitados que não tem nem nome ou qualquer destaque no longa-metragem. Os próprios soldados do BOPE agora são apenas coadjuvantes, descem do patamar de mitos criado no primeiro filme.

Isso porque Nascimento se torna sub-secretário de segurança do Estado do Rio, começando a trabalhar no setor da inteligência da polícia militar. Ele reforça o BOPE, afasta o tráfico de grande parte das favelas cariocas, porém se vê cercado por uma corja de policiais e políticos que substituem os traficantes como os antagonistas da história.

A violência excessiva de grande parte das cenas continua, porém agora sem demonstrar o "sentimento de justiça" que antes causava no público. Isso porque outra violência, esta dos governantes com a segurança e o bolso dos contribuintes, está muito mais escancarada, e toma a posição central da trama.

O conflito envolvendo Nascimento(Wágner Moura) e Fraga(Irandhir Santos), que vive um militante dos Direitos Humanos e deputado federal de esquerda, constrói um paradoxo interessantíssimo entre as ideologias defendidas por ambos, observa suas contradições, mina seus anseios, e constata que mesmo com visões de mundo diferentes eles combatem um sistema único, forte e que se renova através da miséria e da morte de inocentes.

Nascimento tenta buscar redenção com suas ações. Não como um bastião da moralidade, mas como ser humano. Afastado do filho, cujo padastro é justamente Fraga, vê sua vida pessoal decaindo conforme cresce a sua imagem enquanto assassino - na visão do garoto.

É a partir desse momento que o homem substitui o policial e passa a corresponder aos anseios da sociedade que praticamente lhe dá carta branca para executar suas tarefas. Assume erros, tenta corrigí-los, mas como toda pessoa normal, não chega à perfeição, mesmo que muitos o vejam como herói.

Será que agora o líder da Tropa está contra a Elite?

É um funcionário da mão armada do estado, ao mesmo tempo em que vira um refém da macro-estrutura corrupta que dele brota. Com suas palavras e provas, derruba um daqueles famosos apresentadores de programas de TV policiais, vivido brilhantemente por André Mattos, mas vê um governador - chefe da quadrilha, ser reeleito.

Nas milícias, os policiais substituem uns aos outros na arte de matar e faturar altas quantias, traindo e "queimando" antigos comparsas como numa boca de fumo comandada por traficantes. Enquanto o coronel tenta eliminar o sistema, ele se recicla, passa por transformações, mas mantém sua essência, a corrupção e a violência.

Muito para um "herói".

Seu heroísmo maior é deixar um alerta vermelho para a população.

Se o sistema continuar como está, não há Coronel Nascimento que resolva!

E quem serão os responsáveis por mudá-lo?

Nem as elites, nem as tropas.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Do mau senso, egoísmo e outras leis próprias dos canalhas

Rua movimentada, sinal vermelho, atravesso a faixa de pedestre, mas um carro que vem lá de trás chega voando, e tenho de dar um passo atrás para não ser atropelado. Não titubeio em sair gritando na orelha dele: "Olha a faixa porra!". E acima de tudo, "a merda do sinal". Sou louco? Tenho problemas? Ou só quero ser respeitado?

Banco lotado em dia de pagamento, fila dos caixas de um lado, de informações do outro, entro na que preciso, enquanto um maluco com camiseta de prefeitura reveza nas duas, sem perder a vez. Todos tem medo de falar, mas eu reclamo, e sou chamado de abestalhado por ele só porque exigi o direito de todos em não serem passados pra trás por um metido a esperto.

Ônibus cheio de gente, muitas pessoas em pé, inclusive eu, sobem mulheres e idosos, não aposentados, porém nenhum adolescente ou marmanjo levanta a bunda para oferecer o seu lugar. Você olha para as caras deles, todos "cansados" da maratona escolar ou da casa do amiguinho. Enquanto isso, os poucos que cedem seu espaço são trabalhadores.

Supermercado, pra variar cheio, cinquenta caixas, dez funcionando, povo desesperado querendo sair daquele curral de compras, e a desculpa de que tal guichê alcançou um valor x segue em voga para justificar o péssimo atendimento. Quando você enfim chega na vez, a dondoca resolve bater papo com a caixa depois de acabado o cupom, e a paciência de todos vai acabando.

Fim de festa, estacionamento na rua, flanelinha chato, pedindo dinheiro. Você consente em dar R$2, mas ele quer R$4. Você mora a dois quarteirões de distância, mas sua amiga foi de carro, ele olha pra sua cara de gringo, insiste, recebe um não, e sai xingando com os R$2. Um meio de sobrevivência, e dos bons, tem gente que ganha muito mais que eu "guardando" veículos.

Crônicas de um dia a dia que se repete miseravelmente na vida de muitas pessoas. Porém devido a inúmeros fatores elas acabam impedidas de se manifestar contra. Putarias armadas por instituições, empresas, e acima de tudo pessoas que pensam estar acima de todas as outras, fazendo tudo o que pensam e bem entendem em seu próprio benefício.

Afinal então, para que servem as leis? Já entrevistei pessoas que pensam o seguinte: "Brasileiro não cumpre lei, está desacostumado". Para todos os cinco lugares, situações e circunstâncias que citei, existe uma bela porcaria de legislação que em tese defende os interesses do cidadão, mas veja por favor e explique, onde ela está sendo aplicada?

A única que se verifica inalterada e irrepreensível nesses casos é a Lei de Gérson, portanto aquela voltada a se levar vantagem em tudo, mesmo que para isso o cara detone com a liberdade e a existência do seu semelhante. Despreocupado com as consequências ou os atrasos que vão causar na rotina dos demais, eles seguem se proliferando e nem se preocupam com as críticas.

Sair pra porrada não é a solução, e jamais vai ser. Violência verbal também não funciona, meus próprios xingamentos foram meras formas de chutar o balde. Mas experimente abrir a boca pra dar um pito na pessoa, olhar com cara de desaprovação e discutir, ah, como é divertido, prazeroso e impressionante no alcance de resultados e objetivos.

O mais importante de tudo é manter a adrenalina equilibrada, e mostrar um estado de transparência infinita, deixando que suas informações e convicções derrubem os argumentos inócuos do agressor social. Em caso de tentativa de agressão física, se afaste, se esquive, garanto que em alguns segundos a turma do deixa disso vai apartar.

E você irá pra casa satisfeito, sabendo que agora um canalha a menos estará fazendo das suas "espertalhices" para economizar tempo, dinheiro, e por que não, caçoar de quem se ferra com as suas atividades antiéticas, descabidas e, infelizmente, aceitas por uma sociedade medrosa e hipócrita, que quando vê algo errado, só se lembra da lei, mas esquece do bom senso.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Comemoração pela vida que segue

Sete de julho de 1977.

Nesta data nascia Aleksandra Pinheiro.

Jornalista baiana, braço forte, a quem eu carinhosamente chamo de "chefa".

Isso porque realmente ela me contrata para fazer alguns trabalhos como freelancer.

Mas porque estou falando dela?

Hoje é o aniversário dessa moça emocionante.

E explico o porquê dessa emoção:

Quando era criança, havia quem duvidasse que ela sobrevivesse a um câncer nos rins. Sem se abater, ela passou por cima de tudo. 4 anos entre a radioterapia e a quimioterapia e alcançou plena cura.
Mas 25 anos depois, sofreu com a insuficiência renal, passando por terríveis sessões de hemodiálise durante um bom tempo. Com a doação do rim por parte de sua mãe, conseguiu a cura através de um transplante.
Hoje ela segue em frente, se recuperou e vive dignamente, trabalhando, informando e curtindo, por que não?

Se tornou uma das assessoras de comunicação mais eloquentes e competentes do Brasil.

Venho aqui dedicar minha humilde homenagem a ela, deixando a indicação do blog http://transplantando.blogspot.com/, onde ela trata das discussões acerca de doação de órgãos, e claro, faz a campanha para que continuem a acontecer.

Mais do que ser agradecida por conseguir essa vitória, ela se mantém ativa na luta para que outras pessoas tenham a mesma oportunidade. E é por essas e muitas outras que neste dia merece muito mais que parabéns.

Feliz Aniversário Alê! Pela vida que segue.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Fase arquitetônica em voga

Conforme o prometido, o blog continua a funcionar, mesmo com o twitter estando mais frequente.

Nessa postagem, entrevista da arquiteta Teresa Cristina Simões, que fiz para a revista em que trabalho, mas que não foi publicada devido ao seu conteúdo fugir do aspecto comercial que a publicação prega.

Arquiteta realiza estudo que propõe fim do desperdício de tempo, material e dinheiros nas obras públicas
Teresa Cristina Simões aponta os melhores caminhos para tornar as construções públicas realmente sustentáveis

Estudar e propor, ainda na fase dos projetos, uma maior durabilidade das edificações públicas, redução dos custos de obra, das manutenções prediais e de operacionalização do prédio, inclusive com relação ao desperdício de energia e água. Apontar soluções de projetos que encarecem as construções públicas, quer por alternativas de terrenos impróprios, pelo partido e/ou solução arquitetônica adotada sem estudo criterioso, inclusive de implantação, ou pela escolha de materiais de construção inadequados. Com esses objetivos, a arquiteta soteropolitana Tereza Cristina Simões vem desenvolvendo um trabalho minucioso e que descreveu com detalhes em entrevista exclusiva.

Combustão Instantânea - Como surgiu a possibilidade de elaborar esse artigo? Quais eram as suas principais motivações enquanto arquiteta, em termos de experiência e indignação com o tratamento relegado aos projetos públicos urbanísticos e arquitetônicos?

Tereza Cristina Simões - Estava fazendo uma Especialização em Gestão Pública e escolhi este tema pois sempre tive uma preocupação de como os profissionais do setor público, em especial Engenheiros e Arquitetos lidam com os recursos públicos. Considerando que os gastos públicos estão diretamente associados à necessidade de arrecadação de impostos, que vivemos em um país em desenvolvimento e que temos carências em praticamente todos os serviços públicos, o uso responsável destes recursos, deveria ser prioridade das gestões, porém isto não ocorre, penso que por falta de consciência dos profissionais, falta de compromisso com o país e até mesmo por desconhecer ou não associar suas decisões com os desperdícios.

CI - De que forma enxerga a falta de preocupação dos gestores públicos e também dos profissionais da área em adotar medidas sustentáveis financeiramente no momento de escolher os materiais e os locais de construção?

TCS - Acredito que por falta de informações e vontade de gerir com responsabilidade. Hoje está em foco o aquecimento global, a preocupação com o efeito estufa, o desperdício de energia, a necessidade de alternativas ecologicamente corretas, os “Edifícios Verdes”, para isto é necessário investir em conhecimento, atualizar os profissionais, ter como meta este ideal.

Outro aspecto é que na época da elaboração dos projetos nem sempre o foco é ter uma edificação cujo custo de manutenção e operacionalização seja otimizado ao maximo, visando economia, evitando desperdícios de energia e água, otimizando a manutenção das construções.

CI - Além da economia financeira, um dos destaques do seu artigo é o trabalho de redução do consumo de água, energia e outros importantes aspectos dos projetos. Existem planos para implementá-los com apoio do poder público?

TCS - Desconheço, penso que de inicio devera partir da consciência de cada profissional, cada um fazendo a sua parte, colaborando e sendo divulgador de suas soluções, tentando inclusive induzir seus superiores a abraçar esta idéia.

CI - Salvador é uma cidade que sofre com o excesso de umidade e de calor, além de ser alvo da especulação imobiliária. Qual a alternativa que você entende ser necessária à melhoria das condições dos prédios públicos, para evitar que se tornem obsoletos ou inúteis diante dessas questões?

TCS - Precisamos de inicio conscientizar os dirigentes quanto ao uso dos recursos públicos, deixando claro que ele é publico e não privado, que ele não deve ser usado para satisfazer seus egos pessoais, mas sim, deveram ser otimizados em bem dos serviços a serem oferecidos. Devendo ter seus espaços bem definidos, em dimensões que atendam tanto aos usuários quanto a seus funcionários, pois um local de trabalho agradável e coerente gera funcionários satisfeitos, com mais vontade de servir.

CI - Por que os arquitetos e projetistas, ao longo dos anos, evitaram desenvolver junto aos órgãos governamentais trabalhos que estivessem de acordo com esses princípios, voltados a preservar os prédios através de fundações bem estruturadas e produtos de alta durabilidade?

TCS - Por falta de consciência e compromisso, pois é mais fácil continuar fazendo o mesmo do que repensar e sugerir mudanças, afinal fazer “o novo” requer tempo, estudo, determinação e força de vontade, abraçar a idéia e ser inovador. Como no Serviço Público tudo é para “ontem”, de acordo com os interesses políticos do momento, muitas vezes não temos nem tempo nem espaço para propor mudanças.

CI - Qual a previsão de benefícios que as construções verdes podem proporcionar? Existem maneiras de adapta-las a prédios já existentes ou é necessária uma ampla reforma no local para implementá-los?

TCS - Os benefícios são inúmeros, embora este tipo de construção seja um pouco mais cara, em poucos anos o custo beneficio compensa. Penso que esta será o tipo de edificação de um futuro bem próximo, trazendo benefícios financeiros, ecológicos, operacional, de manutenções, passando inclusive pela ajuda no combate ao aquecimento global. É possível, sim, adaptar aos prédios existentes basta querer, penso que seja um bom investimento.

CI- Com relação às escolas públicas da Bahia, onde em sua pesquisa você encontrou inúmeros casos de má-utilização e escolhas pouco recomendáveis de material e localização, quais são as principais recomendações para reestruturar os prédios e contribuir para a melhoria das condições oferecidas aos alunos e professores?

TCS - Faz-se necessário repensar a educação como um todo, com relação aos Projetos Arquitetônicos padrões, deveria ser analisado a região, os terrenos e as verdadeiras necessidades de cada local, os Gestores Públicos deveriam ter a liberdade e isenção para propor de acordo com as necessidades sem interferências políticas, os terrenos deveriam ser escolhidos tecnicamente, e o padrão a ser implantado respeitar as necessidades locais, e ter flexibilidade de alterações quando necessário.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Entrando numa onda nem tão nova assim

Posto no blog hoje apenas para informar os leitores sobre minha nova empreitada no twitter, sobretudo pelo tempo reduzido que ele exige para que eu possa colocar minhas ideias on-line.

Como meu nome completo não é aceito pelo excesso de caracteres, aproveitei para pensar novamente através das palavras, e portanto me tornei @trovagiocondo.

Prometo acima de tudo não me ater a fatos como contos fúteis da minha rotina diária, nem mesmo a ficar seguindo twitteiros famosos só pela febre que muita gente tem por fazer isso.

Muito menos criar factóides em cima do que eles falam, algo que vem se repetindo incessantemente nas matérias de muitos ditos jornalistas por aí, como foi o confronto Bel do ChicletexNizan Guanaes.

Mesmo sendo uma ferramenta importante para a divulgação de informações, não acredito que o microblog já tenha cacife o suficiente para ser fonte de credibilidade incontestável, até porque ainda confio mais num velho gravador, câmera ou microfone.

Apesar disso, ele já se mostrou interessante, pelo menos no tocante a jornalistas amigos que conheço, para fins de divulgação promovidos por assessorias de imprensa, blogs ou jornais.

Dou minha palavra de que vou voltar a escrever no blog. Os meses de abril e maio foram um tanto caóticos e confusos em minha vida pessoal, algo que não cabe aqui, e portanto não houve nenhuma colocação referente a nada.

Espero que os "gorjeios" feitos a partir de agora possam extrapolar a ideia inicial de quando estes começaram a ser feitos, como solução para uma empresa de informática sem perspectivas, no longínquo 21 de março de 2006, quando seus funcionários "inventaram" a tecnologia.

Quando a inovação surge, deve ser usada para beneficiar as pessoas, e se o twitter se mostrou propenso a essa ação até o momento, eu o usarei sem pestanejar, atento a qualquer desvio de objetivo que possa causar.

A linguagem do blog, mesmo limitada em número, continua com força igual por lá.

Que as entidades internéticas me protejam!

terça-feira, 23 de março de 2010

Réquiem para uma UNESP sem sonhos

Minha terça-feira à frente do computador surpreendeu em rendimento como há muito não acontecia.

Ao ler o e-mail do amigo eterno Bruno Terribas, jornalista e petroleiro afeito às boas novidades dos movimentos sindicais e estudantis e também das viagens pelo Brasil, me deparei com a indicação, já provida do devido comentário capcioso, de um vídeo de rap elaborado por alunos da UNESP de Bauru, onde por quatro anos e meio investi meus conhecimentos, amores e amizades.

O clipe, disponível no endereço http://www.youtube.com/watch?v=qwPUXDvrQF4, de 3'18" tem à sua frente alunos e ex-alunos dos cursos de Rádio e TV e Jornalismo, tanto cantando quanto dançando sob as batidas eletrônicas e frases prontas do MC Very D. Cool, antigo vocalista de uma banda de rock que eu até gostava de ouvir nas festinhas de república.

Sob o "rap universitário da quebrada", aparecem versos repetitivos sobre os momentos de devassidão vigiada dos unespianos placebistas, com os vídeos correspondentes incluídos.

Traduzindo para uma linguagem mais própria, se endeusam momentos como o INTERUNESP, "torneio esportivo", digo, desculpa esfarradapada pra beber e azarar até cansar de maneira superficial, em termos de sua amplitude como ser considerado o maior encontro de universitários do Brasil, em busca de desejos reprimidos que, segundo a música "filho chapa a mãe não vê, filho vai pro Interunesp mãe acha que tá tudo bem".

Nossa! Como eles são bêbados, drogados, loucos, fazem sexo sem parar, e os pais nem sabem, ora essa! As mulheres de Franca mostram a bunda, outras correm nuas ao lado dos homens, eles caem pelo barranco bêbados virando cambalhotas! Quanta perversão! Eu não acredito que exista isso na UNESP! Ah! Mas só no Interunesp. Se você nunca participou é um perdedor, não aproveitou a faculdade. É um carneirinho perto de nós fodalhões!

A música segue a lógica de tentar se encontrar, nesses nichos de curtição, o máximo que um membro da universidade poderia ter, a última bolacha do pacote da história, ainda com o agravante de se dizer que Bauru é o melhor campus, e toda aquela pasmaceira e babaquice imbecil que fica se proliferando nos discursos vazios de quem tem a necessidade de acirrar esse ranking do melhor por nada.

Quem frequenta esse tipo de festa - eu inclusive já fui, em meu primeiro ano, está pouco se fudendo com isso, apesar de alguns demonstrarem, muitas vezes com brigas, xingamentos, e músicas, como as tocadas por baterias de cada uma e agora invariavelmente iguais nesse rap, a sua ânsia por ser mais e melhor, só sem estabelecer o critério para comparação sobre o que, como se fosse inerente ao contexto.

Há ainda claro, como não poderia deixar de ser, a afirmação da República própria enquanto lugar dos "manos sangue bom", onde se vive também só curtindo. Não me espantou no ano passado a campanha de premiação de uma empresa de bebidas com uma geladeira lotada de cerveja para a República que fosse votada como a melhor da cidade, e que claro massageou o ego como ninguém poderia mais, colocando mais uma vez o comportamento pouco significante dessas pessoas como o supra-sumo do exemplo de "quem é que manda na UNESP".

De boa mesmo. Cada um curte o seu momento, vive a sua vida de universitário. Tem as suas horas de festa, muitas na verdade, em que faz o que bem entende e pouco se preocupa com o que os outros pensam dele. Qualquer um já teve um porre e a consequente ressaca, transou com alguém ou mais uma dúzia de gente, fez um monte de merda e riu, diante da própria idiotice. Mas tem assim tanta necessidade de aparecer e querer provar que é o melhor nisso e que continua sendo o loucão? Espalhar aos quatro cantos e ficar se vangloriando, de que?

Tudo absolutamente normal, natural a qualquer um que adentre esse meio. Muitos são mais pudicos, conservadores, ficam na sua e não entram nessa onda por escolha própria. Agora porque é que temos de, mesmo após 2 anos longe da universidade, continuar a assistir o mesmo espetáculo deprimente, tonto, simplesmente isso, contando as peripécias universitárias como se, fora desse ambiente de baterias e atléticas, ninguém fizesse nada demais.

Em uma outra análise, o camarada Bruno, mais preocupado com a produção do vídeo, acredita que esse "é o caos que avança pelos últimos "redutos" de produção político-cultural até então relativamente independente do domínio do capital. Para ele, a tendência de se criarem gêneros (ou nichos de mercado) ditos "universitários" (ainda que nada tenham a ver com o conhecimento) faz com com que pessoas como essas vejam aí uma possibilidade de surgirem como "novidades", por mais forçado e ridículo que fique o resultado final".

Ridículo é pouco. E pior ainda é ver, no vídeo, várias pessoas que conhecia participando com toda a empolgação. Algumas delas até bem próximas do meu círculo de amizades, o que eu lamento profundamente. Sei que vão dizer que era só uma brincadeira, que eu levo as coisas muito a sério, mas não, não tenho como voltar atrás agora e compreender.

Encontrei-me com uma delas no início da noite, via internet, e a pessoa me explicou que o clichê exagerado foi justamente usado para fazer um vídeo engraçado, que ironizasse a atitude unespiana, e que apenas se o intento dos realizadores fosse sério é que minha crítica teria fundamento. Perguntada se aquilo, apesar de brincadeira, não tinha um fundo de verdade, ela não respondeu. A internet da pessoa caiu, sei lá.

Torço mesmo para que tenha sido esse o objetivo, mas até que provem o contrário, desejo meus pêsames! Unesp, sem sonhos, ouça o seu réquiem e durma em sono profundo!

E quem achar esse vídeo engraçado por favor me avise!

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Nem todo carnaval tem seu fim, mas princípio de elitização


Apesar de passados dez dias desde o último suspiro de folia em Salvador, com o arrastão da quarta-feira de cinzas de Carlinhos Brown e Ivete Sangalo, a agonia das réstias deixadas pela "maior festa popular do mundo" só termina neste domingo, prazo dado para o desmonte das estruturas dos camarotes nos três circuitos do carnaval.

No entanto se mantém nos outdoors por toda a cidade os agradecimentos de bandas, blocos e dos próprios camarotes à presença maciça do público durante os festejos, sua animação e vibração perante a música, a azaração e todos os demais elementos cristalizados na cabeça dos milhares de participantes destes infindáveis redutos elitizados dentro da tal festa popular.

E de onde vem essa elitização? Fenômeno atual? Construção histórica?

Como pesquisador, estive na última semana catalogando material referente ao sambista Assis Valente, compositor de canções que fizeram sucesso nas vozes de gente como Carmen Miranda, João Gilberto, Chico Buarque, Nara Leão, Elis Regina e Luiz Gonzaga, entre outros. O trabalho faz parte da colaboração para a biografia de Assis, que será escrita por Gonçalo Júnior.

Também foi alvo de minha atenção a celebração momesca das três primeiras décadas do século XX, época em que o saudoso sambista compunha aos borbotões, e quando os pulos de alegria de trabalhadores, patrões e famílias já eram dados de maneira discriminada, conforme conta o historiador baiano Cid Teixeira no livro Carnaval na Bahia - Um registro Estético.

Em seu texto intitulado "Carnaval entre as duas guerras" Teixeira esmiúça, de forma direta, toda a depreciação da imprensa com relação aos grupos de Afoxé, formados apenas por negros, bem como a clara separação dos blocos populares, frequentadores da Baixa dos sapateiros, e os empresários que colocavam as filhas para desfilar em suntuosos carros alegóricos no centro.

Durante os "loucos anos 20" as mulheres começavam a se desprender quanto às fantasias e vestimentas, os homens endinheirados inventavam fantasias exageradas mas distintas, querendo a volta dos clubes onde se separavam das classes menos favorecidas, e o povo destilava sua ironia e crítica aos políticos nas marchinhas.

Quando o cancioneiro popular se volta contra as elites

Foi a partir dessas músicas, como as criadas pelo mestre Aristides Júlio de Oliveira, conhecido como Moleque Diabo, que candidatos à presidência como o mineiro Artur Bernardes e ditadores como o gaúcho Getúlio Vargas e seus integralistas foram malhados. Nesse momento surgiram outros músicos do gênero, como Josué de Barros, Assis Valente e Dorival Caimmy.

Dorival Caimmy era membro do conjunto Três e Meio, formado também por Alberto Costa, Zezinho Rodrigues e Adolfo Nascimento, o Dodô, um dos criadores do Trio Elétrico em 1950.

Após o fim do grupo, ao lado de Osmar, Dodô popularizou o som amplificado do frevo pernambucano e das composições da dupla em cima da chamada Fubica, pequeno carro recheado de adereços que deu origem ao que hoje se transformou em um instrumento de apelo comercial incomensurável no carnaval da Bahia e nas micaretas pelo Brasil.

Uma invenção genial, como o avião de Santos Dumont, da mesma forma utilizada para princípios completamente distoantes do ideal de seus inventores.

Expansão e mercantilização elétrica

Sem delongas quanto à história dos 60 anos do Trio Elétrico, algo que a TVE da Bahia vem desenvolvendo com vídeos bem informativos nas últimas semanas, me resumo a comentar o ponto onde se chegou através dele, que é a exploração do espaço nos circuitos pelos blocos fechados - com cordas, onde se paga para curtir a banda sem se misturar à "pipoca".

A área ocupada pelos que podem pagar pelos blocos de Chiclete com Banana, Claudia Leite e outros, unida às demandas gigantes dos camarotes, transforma a pipoca em sardinha, que ainda divide espaço com os catadores de latinhas e vendedores ambulantes, quando não são ainda mais espremidos pelos cordeiros, que obedecem à ordens superiores para achatar os desprivelegiados.

De toda essa pendenga, some-se a quantidade de lixo despejada e a urina eliminada em plena rua, a truculência policial, os furtos e brigas totalmente imbecis, e pense aí, na "maior festa popular do mundo", toda bonitinha e enfeitada pelo poder público para todos, mas aproveitada realmente por quem pode pagar por um lugar longe da "gentalha".

Sim, alguns elementos conseguem se divertir, porque vão aos blocos independentes, exemplificados por Armandinho - filho de Osmar, Novos Baianos, Moraes Moreira e outros, sem serem ameaçados por cotoveladas, cacetetes, pisões ou cordas, ou se esforçam para assistir a sensacionais blocos afro, como o tradicionalíssimo Ilê Ayiê, quando sai do Bairro da Liberdade.

Não venho aqui citar grupos musicais ou blocos para comparar qualidades, gostos ou opiniões, mesmo sendo contra essa bobagem de "Música do Verão", e modinhas como "Rebolation" ou "Lobo Mau", mas quero deixar meu pesar pela transformação estapafúrdia dessa festa num comércio sem fim que parte deles transformou a curtição que deveria ser da galera.

Amanhã, quando toda a parafernália metálica dos camarotes finalmente deixar a avenida, pode ser o momento de pensar nessa descontrução material e também conceitual, um processo complexo de reflexão sobre os seis dias de folia. Circuito novo? Mais segurança? Higiene de primeira? Nada disso vai adiantar enquanto o carnaval de Salvador não for democratizado.

sábado, 30 de janeiro de 2010

Memória se perdendo nos jornais - Quando a tecnologia não supera a história

Encerrei ontem o segundo período de pesquisa referente ao filme Redenção, primeiro longa-metragem baiano, lançado em março de 1959, e que está sendo restaurado como parte do projeto de Memória de Roberto Pires, o diretor da película.

Entre uma infinidade de jornais antigos guardados na Biblioteca do Estado da Bahia(Barris), atento quase que exclusivamente às notícias que davam conta das peripécias dos membros da Iglu(Produtora do filme) na elaboração do trabalho, e também da expectativa da crítica especializada e do público para com a estréia, pude passar os olhos sobre outros inúmeros aspectos que diferenciam os jornais daquela época para os de hoje.

A linguagem noticiosa, a começar. A utilização de termos e a mudança de algumas palavras são naturais, mas como entender o fenômeno da inversão da ordem direta quando da elaboração dos títulos e subtítulos, do excesso de uso dos dois pontos(:) para introduzir o nome de um local após dizer o que lá se passou?

Reportagens começavam na primeira página e terminavam na terceira, mas sem pausa, com o leitor tendo de ser interrompido por um parênteses() com os seguintes dizeres: "Continua na página x", e tendo de ir até lá para não perder seu raciocínio. As notícias eram muitas, e mal distribuídas, e as fotos deixavam a desejar, assim como a diagramação.

Impossível seria exigir que naquela época houvesse tecnologia e instrução suficientes para tornar os jornais mais aprazíveis, fato que impede qualquer comparação estética com os existentes hoje.

Agora o que pode ser comparado e muito é a falta de conteúdo das publicações modernas perto do que se colocava diariamente há mais de 50 anos.

Está certo que entre outubro de 1958 e abril de 1959 - período que pesquisei, estourava a Revolução Cubana, a Guerra Fria esquentava, os marechais e generais brasileiros já se agitavam, Brasília era construída, mas será que hoje acontece tão menos que isso para os jornais se dedicarem a tanta fofoca, big brother, novela e dietas?

Sim, as colunas sociais já existiam, os destaques à alta sociedade também, incluindo as fotos das senhoras mais elegantes do pedaço, todas com o nome do marido(Ex: Sra. Manoel Dias da Silva), uma vez que no período nem o código civil nem a luta das mulheres era suficiente para abolir o machismo predominante.

Agora a quantidade e qualidade do noticiário geopolítico, esportivo, econômico e cultural colocava no chinelo qualquer jornalão atual, e isso com um número de páginas infinitamente menor, além de todas as restrições citadas no terceiro e quarto parágrafo deste texto. E a pergunta que vai para os jornais brasileiros de hoje é: O que aconteceu?

Internet em voga e cada dia mais utilizada para um complemento ao impresso, milhares de avanços e evoluções em termos de infográficos, programas de tratamento de imagens, difusão do conhecimento tecnológico, e se esquecem de pensar que ainda tem que existir palavras ali, e formas de misturá-las para cativar quem lê.

Parece até que o passar do tempo faz de quem escreve menos capacitado, e quem surge como inovador da ditadura da imagem, o salvador do jornalismo. Precisam os dois se integrar, sem que haja prejuízos para nenhum dos lados. Por que não um jornal esteticamente belo e com profundidade de análise, apuração e crítica? Ainda é possível.

Enquanto isso, a qualidade física do material pesquisado...

Dessa boa experiência de trabalho permanece um único lamento: O estado calamitoso de alguns exemplares encontrados na biblioteca dos Barris. Rasgados, amassados, dobrados e com orelhas, muitos esfarelando e colados com durex, exemplares do A Tarde, Diário de Notícias, A Bahia e O Estado da Bahia pedem socorro!

Se foi essa administração ou a anterior que deixou a memória do estado nessa situação não me interessa. Só me importo com as pessoas que virão depois de mim para conseguir alcançar, com suas pesquisas, os resultados esperados, sem perder nem uma letra.