domingo, 4 de outubro de 2009

Notícia velha

Gostaria muito de fugir da temática relacionada à violência urbana.

Tratar de discussões relacionadas às olimpíadas no Rio de Janeiro, a morte de Mercedes Sosa ou o golpe em Honduras. Tão amplas e importantes quanto.

Porém um acontecimento recente que envolveu este blogueiro acabou por determinar a escolha da pauta na frente em que se colocaram as duas postagens anteriores.

Tive a carteira roubada. Nela estavam documentos diversos, R$10, cartões, entre outras coisas existentes em qualquer carteira.

O local foi o show do Capital Inicial, de graça na Praça Castro Alves, realizado no domingo passado. Antes, Pepeu Gomes e banda local.

Nem bem começou a primeira música dos caras, apareceu uma mão em meu bolso que não teve como ser segurada. E lá se foi o prejuízo.

Perdi o show, a carteira, a chave de casa, a calma, e quase a dignidade. Com a ajuda de um amigo, consegui um lugar para dormir e o dinheiro do "busão" pra voltar pra casa.

Policiais consultados. "Aqui não é lugar para trazer carteira". "Procure a delegacia do turista" - a pé, claro, 15 minutos até chegar a Deltur do Pelourinho.

Destaque do Jornal A Tarde da segunda, o show foi ovacionado, e citado como "sem registro de incidentes". Ahn!? Incidente não, crime oras, que m... de lei é essa?

E não fiquei sozinho. Na delegacia, logo depois de mim chegaram mais dois com o mesmo problema vindos do mesmo lugar. Claro, não houve qualquer incidente - deve contar apenas assassinato. Ou prisão de um rapaz que fuma maconha, como foi o caso da semana anterior no Parque da Cidade, quando do show da Banda Retrofoguetes. Esse o jornal citou.

Lá também fui com minha carteira.

Na mesma noite do furto, de outros pontos da cidade, apareceram na Deltur duas médicas argentinas vítimas de tentativa de assalto com um espeto de churrasco, e um deficiente físico roubado por dois marmanjos e uma adolescente. E o escrivão respirando fundo no aguardo por uma noite longa, que estava apenas começando.

Bizarro!? Não! Normal. Comum. Típico. Característico.

Quem pegou minha carteira, além dos R$10, não levou mais nada. Documentos e cartões cancelados na hora. Deve ter jogado no chão e sumido com o dinheiro.

Bom proveito deve ter feito. Para mim seriam mais três cervejas, uma bobagem. Mas e quanto a RG, CPF, cartão de banco, cartão de ônibus, alimentação?

Perde-se tempo para fazer de novo, paciência nas filas, mais dinheiro para pagar as multas, atrasos em contratos e projetos. Mas o errado era eu, de levar a carteira no bolso, claro.

Para que um efetivo policial de 80 membros em um show? Segurança? Só pompa e muita desinformação. Agora a responsabilidade é minha, que deixei de guardá-la na cueca.

Sou apenas mais um? Muito pelo contrário. Sou um brasileiro, que de qualquer classe social, não tem mais cabeça para enfrentar esse horrendo espetáculo diário.

Pelo menos consigo me expressar. Não sei se corretamente, devido ao espaço de uma semana entre o acontecimento e o texto, mas sistematizando o que foi esse pesadelo.

O também blogueiro Paulo Sakamoto disse certa vez numa palestra que para perceber a realidade que a cerca uma pessoa precisava ser vítima de um assalto.

Coincidentemente, na noite anterior eu havia sido. Um garoto de no máximo 11 anos de idade pulou do meio do mato me ameaçando com um revólver.

Muito engraçado não? Pelo menos foi o que toda a sala que assistia ao relato dele achou.

Não sou dono da verdade. Nem conheço a tal "realidade" como a apregoada nesse exemplo. Só quero deixar de ser, assim como todas as vítimas cotidianas da violência, uma voz que não ecoa.

Minha família não é abastada. Não ando com roupas de grife nem tenho vida de conforto. Trabalho como qualquer um, mas não vou ser mais estatística como qualquer um.

Venho mostrar, nessa experiência infelizmente in loco, que enquanto governo, imprensa, polícia e outros setores continuarem se omitindo, a tendência desses casos é só aumentar.

E vão crescer alcançando não só a "elite". Qualquer um que saia na rua já é um potencial furtado, roubado ou assaltado.

"Você precisa de alguém, que te dê segurança, senão você dança", já dizia a letra da música. Dancei, desajeitado, e não recomendo o passo ensaiado a ninguém.

2 comentários:

Outro motivo para criar este blog foi a impaciência com comunidades orkutianas e grande portais de notícias devido a exerceram a tal moderação.

Poder moderador é coisa de Brasil colonial, intolerante, arbitrário, conservador e descabido. Aqui o comentarista se modera.

Caso ofenda alguém, vai ser ignorado, nunca banido. Até perceber e se conscientizar. Opiniões divergentes, por favor, quero que surjam sempre.