quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Máfia das carteirinhas da UNE será regulamentada pela Lei Geral da Copa

Não bastasse fraudar urnas de eleições de diretórios e centros acadêmicos, roubar atas que aprovaram a destituição de suas entidades fajutas, mandar seguranças agredirem estudantes contrários às suas propostas ou coagir os delegados de seus congressos a votar a seu favor para não serem deixados à míngua sem transporte de volta para casa, além de usar dinheiro da União para promover festinhas particulares, agora a UNE(UJS/PC do B) enfiou goela abaixo que o texto da Lei Geral da Copa deve permitir que apenas estudantes com carteirinhas da entidade e da UBES(secundaristas) tenham direito a comprar ingressos a preços populares para o Mundial de Futebol de 2014.

Olhem só o privilégio que eles pretendem garantir: http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/so-carteira-da-une-vai-valer-na-copa-do-mundo/

Conforme diz esse texto, a UNE tenta desde 2001 tirar dos estudantes que não têm sua carteirinha o direito de assistir a eventos esportivos e culturais pagando metade do preço, prevista em uma medida provisória aprovada na época.

A inversão de valores é sentida. Quer dizer que se você não for filiado à UNE deixa de ser estudante!?

A imposição de agora estende o benefício no máximo a pessoas que possuírem documentos emitidos por diretórios centrais, além de associações nacionais, estaduais ou municipais de alunos, excluindo do processo as escolas do ensino básico e o movimento estudantil independente de sua laia de capachos.

Mesmo com seus antigos militantes Orlando Silva e Wadson Ribeiro fora do Ministério do Esporte após uma série de denúncias sobre pagamento de propina e irregularidades em convênios com ONGs, os stalinistas ainda conseguem colocar seus tentáculos sobre o direito de cidadãos em participar do evento sem ter de pagar os valores absurdos idealizados pela Fifa.

E o mais trágico, forçar as pessoas interessadas em assistir aos jogos a colocarem sua cara em um documento sem saber da sujeira que se esconde por trás da sua confecção e a que absurdos o dinheiro de sua mensalidade paga, mas que eu vou contar agora.

E direi o que presenciei da história enquanto fui estudante porque não vou me abalar ao ouvir dos canalhas da UJS que dirigem a UNE atualmente que a medida visa a coibir irregularidades.

Logo eles, que comandam uma verdadeira máfia de carteirinhas, oferecendo o documento a profissionais formados e a qualquer outro que pague para ter o direito à meia-entrada, mas que não são mais ou nunca foram estudantes.

Para começar nossa explanação sobre as maracutaias da União da Juventude Socialista dentro da UNE, falemos dos consequentes direcionamentos de seus quadros para a política governamental, como o visto no caso do ex-secretário de Esportes de Campinas, Gustavo Petta, cunhado do ex-ministro do Esporte, que foi exonerado na esteira das denúncias na Esplanada, apesar de negar a prática de irregularidades.

Ex-presidente da UNE e membro da UJS, ele era mais conhecido como "Capeta" pelos adversários de outras correntes políticas do movimento estudantil enquanto foi matriculado na PUC de Campinas, no início dos anos 2000, devido às suas recorrentes práticas fraudulentas no comando da entidade, métodos aplicados também em outras instituições.

Quando entrei no curso de jornalismo da Unesp, do campus de Bauru, em 2004, o DCE da universidade, sob a batuta da UJS, foi DESTITUÍDO de suas atribuições em um Congresso Estudantil por conta de uma série de atitudes e posturas contrárias aos interesses dos alunos, mas sobretudo pela forma escandalosa e descarada com que fraudava as eleições do DCE.

Essa experiência seria digna de nota positiva a favor do movimento não fosse uma das dirigentes da referida corrente política chamada Cristiane(não me recordo do sobrenome), ROUBAR a ata que ratificou a saída de seus cúmplices e correr em direção ao ônibus que lhe trouxe a Bauru, transporte coletivo este já com os motores ligados e os demais delegados aguardando sentadinhos para sumir do mapa.

No ano seguinte, durante o congresso da UNE em Goiânia, foi a vez dos gorilas contratados pela direção da entidade atacarem a esmo militantes de outras correntes que se manifestavam contra suas decisões, terminando com saldo de diversos feridos, entre eles um aluno que perdeu um dedo enquanto era empurrado contra um portão.

Já em 2006, em mais um encontro na Unicamp, em Campinas, os adoradores de Stálin promoveram shows bancados com repasses do governo federal, para quem abaixam a cabeça desde a chegada do PT ao poder, bastando ver o orçamento oficial do Planalto, que lhes manda dinheiro só exigindo obediência.

Foi assim o combinado para que apoiassem o Prouni, programa que ao invés de aumentar as vagas no ensino superior público salvou da falência os tubarões do ensino, donos das faculdades particulares que viam o êxodo cada vez maior de seus alunos e a consequente queda na receita, mas que da noite para o dia começaram a ganhar verba pública em troca de oferecer bolsas a estudantes de baixa renda.

Também foi da mesma forma com o Reuni, plano feito para consertar a cagada do Prouni, e que aí sim aumentou o número de cadeiras e cursos nas federais, porém tomou forma sem que a infraestrutura das mesmas estivesse preparada para receber os estudantes com qualidade, dando lugar para um sem número de prédios alugados, laboratórios inexistentes e professores despreparados que tornam a universidade mais acessível, porém cada vez mais sucateada.

Esses são alguns poucos exemplos, dos quais tenho provas e testemunhas oculares dos fatos, além de todas as matérias jornalísticas já divulgadas, que mostram o quanto minha revolta contra essa manobra política no Congresso fere as liberdades do cidadão brasileiro em prol de uma entidade comandada por salafrários e bandidos que tentam se perpetuar no poder.

Para quem não sabe, eles chegam a ficar mais de 10 anos inseridos em diferentes faculdades, mudando de curso duas, três vezes, sem nunca terminar nenhum, conforme a necessidade de tomar de assalto diretórios e centros acadêmicos, e quando chegam a certa "maturidade", concorrem a cargos de vereador, deputado, e se não conseguem se eleger, são indicados para cargos de confiança no governo, conforme os exemplos que citei no texto, e, não fiquemos surpresos, cometem os mesmos crimes contra a democracia e o erário que perpetuavam antes.

Por isso minha gente, a hora é de se INDIGNAR! A proposta prevista no texto da Lei Geral da Copa só será votada no ano que vem, e a pressão precisa vir desde já para impedir esta afronta de uma entidade que NÃO representa os estudantes do Brasil, apenas os explora e os engana com benesses superficiais!

Não podemos conceber que um monopólio de interesses como este vai ser aprovado a nível federal e oferecer privilégios a um bando de corruptos profissionais enquanto o restante da população fica a ver navios.

Eu mesmo não sou mais estudante desde 2008, pago a entrada inteira em shows, cinemas, futebol e teatro, feita à exceção a espetáculos do SESC, do qual sou sócio por ser trabalhador do comércio, e vou batalhar até o fim das minhas forças para impedir que este cenário horrendo se desenhe nos próximos anos.

Às ruas contra a malversação do bem público feita pela UJS e o PC do B, que desvirtuaram a UNE a favor de seu projeto de poder autoritário!

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Será este o fim do american way of war!?



Ao que parece as tropas norte-americanas finalmente sairão do Iraque, novamente com o rabo entre as pernas, tal como fizeram na Coreia, no Vietnã, no Cambodja e no Afeganistão. O prazo dado pelo presidente Barack Obama é o dia 31/12/2011, conforme anúncio desta quarta-feira.

Os Estados Unidos invadiram o país asiático em março de 2003 e por lá permaneceram durante quase uma década matando crianças, pessoas comuns, jornalistas, e claro, os soldados locais que tombaram, mas que só entram nas estatísticas como números e não seres humanos.

Apoiados por seus irmãos anglo-saxões Grã-Bretanha e Austrália, que reforçaram o efetivo, destituíram um ditador que durante muitos anos sustentaram com armas, dinheiro e falta de escrúpulos quando isto lhes foi conveniente.

Assim que o dono do bigode mais perigoso do oriente médio lhes deu uma banana pela segunda vez - lembremo-nos do Golfo, mandaram-lhe enforcar. Ah! Como foi diferente o tratamento estadounidense ao cover de Stálin quando este impediu o avanço do poder dos aiatolás iranianos na região, em 1979.

Será que antes de parar de ser um lambe-botas Saddan era um ferrenho defensor das liberdades civis, eleito democraticamente, e que repassava à população miserável de seu país todos os serviços públicos de qualidade que poderiam ser mantidos com a riqueza obtida com a renda do petróleo!?

O povo não é idiota.

A mudança de postura dos norte-americanos só veio no momento em que os interesses econômicos dos reis da selvageria do capital financeiro não eram mais atendidos.

Juntou-se a eles a demência paranoica criada após os atentados de 11 de setembro de 2001 pelo macaco de feira George W. Bush.

Com a conivência da imprensa, ele conseguiu ludibriar aliados e eleitores, transformando improváveis ameaças de um falido "Satã", em um possível detentor de armas de destruição em massa, que estaria colocando em risco a vida do povo americano e os valores democráticos e a liberdade(de consumir, é claro) dos iraquianos.

A velha ladainha demagoga repetida à exaustão não cessou, as mentiras e bravatas jogadas ao vento sem qualquer fundamento ou justificativa permaneceram na mente das pessoas, enquanto as grandes corporações empresariais do ocidente aproveitaram a fragilidade das instituições do oriente para jogar suas ventosas sobre o petróleo e iniciar o processo superfaturado de reconstrução de uma nação destruída pelas patas imundas dos militares que lá pisaram.

Debaixo de seus pés prisioneiros foram torturados na detenção de Abu Graib, sob o olhar sombrio das câmeras fotográficas e cinematográficas dos próprios agentes da repressão, que com orgulho e sadismo golpeavam e humilhavam o inimigo, naquele que ficou marcado como um dos momentos mais grotescos desta guerra inútil e que, mesmo hoje, não é admitido pelo governo norte-americano como um atentado aos direitos humanos.


Muito pelo contrário. São esses mesmos direitos, ao menos no discurso, que o atual presidente americano evoca para vangloriar a bravura e os sacrifícios de seus soldados ao combater "o terror" instalado no Iraque. Isso porque mesmo fazendo batalhas estratégicas covardes, como se estivessem no controle de um videogame, ainda conseguiram perder quatro mil e 500 homens que acreditaram na balela do american way of war.

Felizmente muitos movimentos sociais ao redor do mundo, inclusive as manifestações conjuntas retratadas neste vídeo da banda armênia System of a Down: http://www.youtube.com/watch?v=bE2r7r7VVic, bateram de frente com todas as suas forças através de uma campanha pelo fim da Guerra e a retirada das tropas americanas do Iraque.

Agora que a reivindicação foi "atendida", esses protestos devem retornar. Precisa permanecer o alerta para que o modelo desta afronta à soberania de um povo não seja mais ameaçada na Síria, provável próximo alvo da intervenção militar ocidental, onde mais uma vez virá à tona a história de que um ditador sanguinário, Bashar al-Assad, que já assassinou cinco mil de seus cidadãos, precisa ser derrubado mediante a força de agentes externos.

O Irã também pode aparecer no caminho, com os yankees novamente usando a mesma desculpa do reforço bélico do inimigo.

O american way of war ignora a existência do ímpeto dessas pessoas, sua união em busca dos próprios ideais, e a soberania que desenvolvem nos momentos de maior barbárie imposta por seus governantes autoritários para lutar até a morte e mostrar que são extremamente capazes de fazer a sua própria revolução, oferecendo benefícios aos seus irmãos e não aos megaempresários estrangeiros que só vão torná-los ainda mais explorados.

Tunísia, Marrocos e Egito já mostraram que é possível, apesar de ainda caminharem sob a vista de antigos membros dos regimes totalitários que insistem em não se retirar de cena.

Se é o fim do modelo de guerra norte-americano como nós conhecemos, a preocupação do momento é evitar que essa ideia bizarra de defesa da democracia do modelo ocidental a qualquer custo volte a ser feita.

Matar por dinheiro, pelo poder e o prazer de destruir jamais será uma virtude. Aliás, a guerra, por si só, não tem razão alguma que não seja dessas ordens. Qualquer uma delas.

O ódio regado a petróleo precisa desaparecer, e a população carente que sempre é a maior vítima desses conflitos deve começar a viver de verdade, sem lágrimas, sem sangue, com conforto, saúde, educação e independência real.

Stop the war Obama! Get out of Iraq!

sábado, 26 de novembro de 2011

Adolescentes pobres são condenados por cabular aula em São Paulo

Crédito da foto: Abu Mendes/FolhaPress

A Prefeitura da Ditadura Fascista de São Paulo agora não dá trégua nem às crianças e adolescentes que matam aula nas escolas públicas da rede municipal.

Com a ajuda da PM, sempre ela, da Guarda Municipal e pasmem, do Conselho Tutelar, começou a abordar, revistar e anotar nomes e documentos dos menores encontrados em parques do Itaim Paulista, bairro da zona leste da capital.

Fez bloqueios policiais em todas as saídas desses espaços, que a princípio são destinados ao lazer dos jovens.

Depois de colocar os meninos em fila como se fossem suspeitos de cometer algum crime, levou-os amontoados de volta aos colégios dentro de kombis.

A desculpa é evitar a evasão escolar e reduzir o consumo de drogas, que parte desses estudantes teria acesso facilmente, segundo a polícia.

Dados da Secretaria de Estado da Educação mostram que a média de evasão caiu de 12,1% no ensino fundamental e de 26,5% no ensino médio para 1,5% e 5,4% entre 1986 e o ano passado.


A Subprefeitura da região afirma que a decisão foi tomada após o Conselho Comunitário de Segurança relatar reclamações de moradores sobre meninos e meninas que, além de ter o acesso aos entorpecentes, bebiam e faziam sexo em público. Conversa fiada.

Dentre as mais de 50 abordagens feitas no Parque Chico Mendes, apenas duas pessoas, uma delas maior de idade, foram pegas com maconha, não revelada a quantidade, e levadas à delegacia.

Outros 25 meninos foram liberados por não haver espaço nos veículos, e 23 meninas deportadas de volta às escolas pelo crime de matar a aula, sem chances de defesa para a vítima.

A desculpa esfarrapada de proteger as crianças do mundo das drogas começa a cair por terra quando o próprio subprefeito do Itaim Paulista, Sergio Payão, aliás tenente-coronel reformado da PM, diz que sem as garotas no local os rapazes vão embora.

Não é preciso ler nas entrelinhas que o que as autoridades autoritárias da cidade querem na verdade é reprimir o único momento de lazer, divertimento e porque não prazer desses adolescentes de um dos bairros mais pobres de São Paulo.

Agora não se pode mais namorar dentro do parque porque se atenta contra os bons costumes de uma sociedade mesquinha que esquece da péssima qualidade das escolas públicas e condena os estudantes que não suportam ficar dentro da sala de aula.

Essas crianças e adolescentes são forçados a retornar aos "estudos" pela pura incompetência da administração municipal em tornar esses centros de ensino espaços de aprendizado, cultura e esporte condizentes com os desejos dessa molecada.

Fossem os colégios realmente aprazíveis e dotados de uma educação libertária, os estudantes aprenderiam a usar camisinha ao fazer sexo e não evitá-lo nessa fase da vida, seriam orientados sobre os anticoncepcionais e pílula do dia seguinte, e conheceriam a respeito da tão temida temática do aborto, apesar de sua criminalização pelas leis, tornando-se assim adultos com melhores perspectivas econômicas e sociais sem uma gravidez ou doenças indesejáveis.

Eles são filhos de trabalhadores de baixa renda, quando não desempregados, que não têm qualquer acesso a cinemas, teatros, shows e sequer um clube de bairro onde exista uma piscina e uma quadra para passar o tempo e se divertir.

Seus dramas diários em uma casa esfacelada pela fome, as brigas familiares, e os diversos hecatombes sociais que podem atingir um lar miserável talvez seriam ao menos apaziguados pelos carinhos de uma amizade colorida, mas nem isso mais eles podem ter.

Ao invés de melhorar a educação pública, a Prefeitura prefere disfarçar sua incompetência caçando adolescentes "assanhados" e com suposto potencial de uso de drogas na cidade.

Garanto que virão a público novamente os arautos da moralidade defender essa ação policial verdadeiramente criminosa, e ainda vão reiterar que ela precisa ser acompanhada de outro absurdo que é o toque de recolher adotado em muitas cidades do Brasil.

Os mesmos conservadores que bradam pela opressão do direito básico de ir e vir de crianças e adolescentes pobres são aqueles que reclamam dos altos índices de criminalidade e colocam a culpa na "safadeza das pessoas sem instrução em ter filhos de baciada".

Chegam ao ponto de defender o controle de natalidade e são apoiados por parlamentares de sua laia que tentam aprovar leis que cada vez mais cerceiam as liberdades fundamentais do ser humano e o colocam em situação periclitante para sobreviver com dignidade.

Garanto que os mesmos safados não vêem problemas em seus próprios filhos alimentarem a prostituição em boates de executivos, que tem em seu elenco garotas da periferia angustiadas pela ausência de qualquer futuro melhor.

Enquanto viver sem a intervenção do estado for considerado criminoso, por mais que a evasão escolar não seja benéfica, devemos nos preocupar com as próximas ações que atentem contra nossas próprias intimidades, que prometem ser piores que as da Idade Média.

Ao menos a Defensoria Pública já se mostrou contrária à atitude na esfera da lei, por ser considerada coercitiva e inconstitucional. Mas é preciso bem mais que regras instituídas para resolver a paranoia da administração pública.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

London falling, and burning



A composição de Joe Strummer e Mick Jones, de 1979, London calling, feita no momento em que o The Clash propagava o caos e clamava pela saída dos garotos e garotas do submundo de suas periferias para lutar contra a opressão, enfim encontrou seu reflexo incendiário no século XXI.

Inconformados após a polícia de Londres matar um jovem negro e trabalhador chamado Mark Duggan, na quinta-feira, 4 de agosto, moradores do bairro de Tottenham, na região norte da capital, fizeram um protesto pacífico pelo esclarecimento do crime.

Como é de praxe, a Scotland Yard se esquivou do episódio, prometendo apurar o caso, enquanto a fúria da multidão crescia. Alegou que houve um tiroteio e que o rapaz, de apenas 29 anos e pai de quatro filhos, reagiu à abordagem quando estava dentro de um táxi.

A partir da noite de sábado seguiu-se, como há muito não se via, um movimento brutal vindo da camada mais pobre da população britânica, que iniciou sua própria Justiça derrubando delegacias e outros prédios públicos com coquetéis molotov, tacos de beisebol e chutes.

A horda de rebeldes londrinos contagiou outros desprivilegiados de Liverpool, Bristol, Birmingham, Manchester e Nottingham, afetados pela recente decisão do governo de David Cameron de aprovar um plano de austeridade que cortou programas sociais destinados a jovens.

Muitos deles são desempregados, nos moldes dos operários das fábricas dos subúrbios londrinos que inspiraram o movimento punk da década de 70, que entendiam a falta de perspectiva de futuro como fato consumado, e tinham na violência a única e necessária saída.

Carros, ônibus e principalmente lojas de empresas multinacionais também são atingidos. O comércio, alvo de saques, sofre na pele o alcance do desespero de muitos adolescentes esfomeados, que enxergam a oportunidade de darem seus gritos em meio à inércia do governo.

Hoje, terça-feira, após mais de três dias de verdadeiras batalhas campais entre manifestantes e policiais, a perícia que investiga o homicídio de Duggan constatou que ele não ofereceu qualquer resistência quando foi parado pela blitz.

Mais que isso, mostrou que a bala alojada no rádio da polícia, que supostamente teria partido de um tiro do rapaz, veio da arma de um agente. Outro membro da corporação foi ferido na ação, a única peça que falta para comprovar a óbvia culpa do braço armado do Estado.

Antes de qualquer conclusão, precipitaram-se parlamentares conservadores e trabalhistas a falar sem conhecimento de causa, taxando os manifestantes de oportunistas e criminosos, sem buscar qualquer explicação inserida no contexto social para os incidentes.

E o primeiro ministro, que até então estava de férias na Itália, resolveu voltar para uma reunião de emergência contra a crise, colocando 17 mil homens nas ruas para reforçar a segurança. Pelo menos 563 pessoas já foram presas em Londres, e outras 39 em Bristol.

Enquanto 111 agentes e 14 civis estão feridos, nada se fala sobre as vítimas das balas de borracha, bombas de efeito moral e outros aparelhos de "controle de multidões". Mas o primeiro integrante da revolta já foi morto, aos 26 anos, na noite desta segunda-feira, 9.

Depois de amanhã, Cameron tem mais uma reunião urgente, desta vez com o Parlamento inglês, buscando uma saída possível para os confrontos, e preocupado, claro, com a imagem do país, que será sede das Olimpíadas daqui a menos de um ano.

Medidas que visem melhorar as condições financeiras e de dignidade e acesso a oportunidades inexistem. Creio que essa é a única reivindicação possível dessa gente, que teve no assassinato do vizinho apenas o estopim para soltar sua fúria contra as instituições inglesas falidas.

E é exatamente desse ponto que trata a música lembrada no início do texto. Com uma propriedade universal e atualíssima, London Calling alerta que, com a parada das máquinas, a esperada explosão vai acontecer assim que o trigo começar a crescer devagar e de forma insuficiente.

Não é difícil interpretar a letra livremente para entender que, com o advento inevitável do desemprego e da fome, o limite do ímpeto irracional dessas pessoas vai se transformar rapidamente em revolta.

A guerra está declarada e a batalha começa! Burn London, burn!


quinta-feira, 31 de março de 2011

Todos não estão, mas vão ficar surdos


Minha sensibilidade auditiva aumenta a cada dia. Não como a de certos animais, que escutam sua presa a quilômetros de distância, mas tal qual alguém incomodado profundamente com o barulho constante que aflige as grandes cidades.

Talvez essa sensação de poluição sonora seja reflexo ou apenas uma impressão de um rapaz do interior como eu, que só começou a conviver diariamente com as metrópoles há um ano e meio, quando me mudei para Salvador.

Hoje em São Paulo, sinto que a cada dia que os ruídos eliminados por motores de carros, motos e ônibus, além de britadeiras, serras semi-circulares, alarmes, celulares e outras fontes menos tradicionais dessa "música malévola" me irritam de forma absurda e irreversível.

Me pergunto o tempo todo como pode o ser humano suportar a destruição de sua saúde por meio de sons tão desafinados, repetitivos e devastadores. Não há explicação consciente para entender também o porquê das pessoas produzirem essa lástima com tanta frequência.

Ainda não fui ao otorrino verificar se tenho algum problema - com certeza o primeiro do tipo em 26 anos de existência, caso se confirme - porém creio piamente que a origem dele se encontra nesse caótico cenário.

Ainda não sinto dores, e espero sinceramente que elas não aflijam meus ouvidos. Admito que a apreciação de altas doses de rock'n roll durante a adolescência contribuiu relativamente para esse momento, porém nada se compara aos atuais excessos que escuto.

A arte imitando a vida

Prometo que não vou reagir como o diretor de cinema Henry Bean, que, para conseguir dormir com sossego, quebrava os vidros dos automóveis de sua rua que tinham o mau hábito de disparar os alarmes no meio da noite, até ser julgado e preso.

O cineasta viu que a atitude estava lhe custando muitos dólares e acabando com seu casamento, quando resolveu fazer um filme sobre o assunto - "Passando dos Limites"(Noisy) , que tem Tim Robbins no papel principal.


Tamanho era o incômodo do homem que ele passa a atuar como justiceiro. Autoproclamando-se "O Retificador", simplesmente detona a marteladas os pára-brisas de 170 veículos, vira ídolo do povo e bate de frente com o prefeito de Nova Iorque em busca de seu objetivo.

Na cidade norte-americana, a lei prevê que os alarmes devem ser desligados após 3 minutos do disparo. Já os vereadores da capital paulista aprovaram recentemente um tempo menor, de 120 segundos, o que apenas serve de paliativo para o transtorno.

Solução a curto prazo, os burocratas não vão conseguir. Revoltas individuais minhas, tais quais a de Bean, tampouco. A tentativa mais propensa é seguir os ensinamentos da música tema do filme - I Fought the law, and I won, composta por Sonny Curtis.

Traduzindo, eu enfrentei a lei, e ganhei. Nem que fique surdo até conseguir.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

O universo em uma feira dentro de nós



Os gritos avançam pelos ouvidos com a velocidade, o temperamento e os sotaques dos mais variados, as cores e os aromas ampliam os sentidos, os sorrisos estampados alucinam, o clima de harmonia flui levemente, trazendo para o final da manhã do sábado a inquietude para aqueles que desejam experimentar, mesmo que por breves momentos, a intensa sensação de compartilhar da vida que existe em uma feira livre.

Comecei meu contato com esse ambiente quando ainda vivia no interior, na mais tenra infância, e todo santo fim de semana acompanhava meus pais na procura pelas melhores frutas, legumes, verduras e temperos, sem jamais esquecer do tradicional pastel acompanhado do geladíssimo caldo de cana que conferia ares de descontração àquela simples forma de manifestação e finalizava com louvor o passeio por aquele universo.

Visitei diversas delas no interior de São Paulo, Espírito Santo, Minas Gerais e Bahia durante meu crescimento pessoal e profissional, algumas malucas que juntavam aos tradicionais alimentos biscoitos, galinhas vivas, peixes e até roupas, outras que mantinham a tradição hortifruti, mas todas sempre repletas, de gente e de itens inimagináveis incrivelmente postos juntos, e que recheiam as memórias como uma salada multicolorida de sonhos.

Este texto aparece justamente porque estive hoje na feira que ocupa a rua Adolfo Gordo, no bairro de Campos Elíseos, em São Paulo, minha primeira vivência como comprador dos quitutes e vegetais poucas horas depois de uma desgastante jornada de trabalho. O cansaço foi deixado de lado para ser ocupado pela satisfação em conhecer as pessoas que trabalham, frequentam e assistem a essa cerimônia de infindáveis misturas , jeitos e histórias.

Na sacola, batatas, cenouras, abobrinhas, bananas, maçãs, uvas e mangas, nos bolsos, menos R$15, no coração, felicidade por acompanhar de perto toda a dedicação que os feirantes levam aos seus amigos, sim, amigos, porque se resumir a chamar de cliente quem bate um papo gostoso e faz questão de adentrar nesse espaço e ser tocado por ele é perder a essência do que é a existência do mesmo, jamais restrita à questão mercadológica.

Isso porque esse é um contato inexistente em mercados e quitandas, que podem ter até itens mais bonitos esteticamente, mas jamais vão elevar o espírito da alegria como o faz uma feira, bela por sua própria natureza, ligada à bagunça, às brincadeiras, aos personagens folclóricos, ao encontro dos produtos que vão estar na mesa das pessoas não apenas carregando sabor, mas trazendo uma lembrança, uma ideia, uma esperança.

Para quem pensa que a criatividade dispensa comentários, basta observar o jovem rapaz oferecendo mangas que tem folhas de alface como enfeite . Carregando o filho pequeno a tiracolo, explica que por as frutas serem vermelhas, ficam mais destacadas quando tem ao seu lado algo de uma cor bem diferente, o que chama a atenção e, consequentemente, traz mais gente para levar a delícia tropical para casa. Nem precisou estudar semiótica.

Surpresa generosa também, quando se adquirem uvas e bananas em um certo número, especificado antes da compra, e logo em seguida se ganham outras, de brinde do vendedor, porque ele acredita que o velho ditado do "em se dando é que se recebe" realmente funciona no momento de agradar e atrair novos adeptos da sua banquinha. E fica a pergunta no ar, em que hiper, mega, master loja de rede isso aconteceria?

Sim, como sempre, há crianças e outras pessoas pedindo dinheiro, reféns de problemas sociais enormes e inumeráveis que estão ali para tentar salvar seu estômago de mais algumas horas ou dias de fome, e que contam com a solidariedade de quem marca presença para lhes ajudar, quase sempre conseguindo alguma coisa, senão pelo menos ficando com as sobras das barracas, algo que muito universitário que quer economizar também faz pagando pouco.

Por falar em faculdade...

Lembro-me que no ano de 2007 sugeri como tema para a produção dos filmes da disciplina de Documentários de minha faculdade justamente às benditas feiras, que eu via, mesmo não entendendo absolutamente nada de cinema, serem um lugar onde as enormes perspectivas traçadas pela arte pudessem ser desenhadas, nem que fossem por amadores como eu e meus colegas de classe, o que de fato acabou se concretizando muito bem.

Devido ao volume de experiências que tive posteriormente , e por novamente me encantar com esta feira que acabei de conhecer, penso em talvez produzir um novo em breve, até porque essa aventura anterior se perdeu pelas entranhas dos programas de edição de computadores de amigos ou dvd's jogados em algum canto, procurando desta vez não fazer apenas um "retrato da realidade", mas algo que venha de dentro do meu ser, como essas palavras.

Por mais que seja difícil passar a sensação que todos os participantes desse dia a dia têm ao acordar bem cedo, preparar o seu corpo e a sua mente para aguentar o calor e os pedidos insistentes de desconto, um pedacinho do abacaxi ou os questionamentos sobre a procedência de determinado item, há de se colocar, ao menos por enquanto, a forma cativante como conseguem transformar sua labuta em uma euforia que só termina quando é raspada a chepa.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Por que a culpa é sempre da chuva!?



E a velha conversa fiada segue a todo vapor.

Quando não, a geografia e o relevo dos locais atingidos pelas enchentes são apontados como os responsáveis pelas tragédias que continuam a acontecer em nosso país, ceifando milhares de vidas e histórias. Mesmo depois de muitas explicações e justificativas das autoridades, elas não conseguem ser contidas quando da próxima tempestade.

Santa Catarina, Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo, Pernambuco, Alagoas, Bahia. Mortes e mais mortes extremamente evitáveis se tornando rotina nos meses de janeiro e fevereiro e até março, quando as águas do verão deixam de cair em profusão.

Mas será mesmo que os vendavais, a localização dos rios e a estrutura dos morros, sozinhos, são suficientes para desenvolver tamanho caos!? Posso dizer que não, justamente por ter sido atingido duas vezes por enchentes, e observar que o homem tem papel fundamental nesse processo, em diversos aspectos.

Em fevereiro de 1994, quando residia no centro da cidade de São Pedro-SP, minha casa foi invadida pela lama e pelos entulhos graças a uma ação da prefeitura, que resolveu por conta própria destruir os muros de uma enorme mansão/sítio próximo, que estava tomado pelas águas e cujo proprietário possuía uma enorme influência econômica na localidade do interior.

Em 20 de janeiro de 2005, na mesma cidade, morando em um condomínio, novamente fui atingido junto com minha família e alguns vizinhos, desta vez com mais intensidade, depois que a ponte que passava sobre um rio próximo estourou.

Mesmo após as tentativas do dono do local, do engenheiro que fez o projeto e do secretário de agricultura do município em inventar desculpas e responsabilizar a "tromba d'água" pelo acontecido, a Justiça provou que a ponte foi mal calculada pelo engenheiro civil, o proprietário cometeu crime ambiental - construiu em Área de Proteção Ambiental, e em consequência disso as casas foram devastadas.

Episódios pessoais que podem ser utilizados como exemplo para o drama das pessoas que agora sofrem em Teresópolis, Nova Friburgo e Petrópolis, e outras que já passaram pelo mesmo em Angra dos Reis, São Luis do Paraitinga, Franca e outras cidades que vão sendo esquecidas pelo tempo.

Onde está o planejamento urbano destes locais? De nada adianta verba para prevenção de enchentes, tão reclamada pelo governador do Rio Sérgio Cabral e escondida pelo ex-ministro da Integração Nacional Geddel Vieira Lima, se sempre houve irresponsabilidade no manejo das edificações dentro desses espaços.

Porque chover sempre choveu, deslizar terra sempre deslizou, e encher o rio sempre encheu. Mas construir em cima do morro, devastar mata ciliar a favor do progresso, exagerar no concreto e jogar lixo em local inapropriado é um fenômeno antrópico. Portanto, se agora chove mais forte e consequentemente as casas desmoronam isso nada mais é que um fruto da ação humana.

Infelizmente a solidariedade nesses momentos, tão importante para o auxílio aos atingidos, acaba por ser utilizada pelos mal intencionados empresários, prefeitos e governadores para se auto-promover e, na maioria dos casos, se isentar ou então não falar sobre as verdadeiras faces das enchentes, que estão ligadas à permissão diária de construções irregulares e da degradação ambiental que não se interrompem de forma alguma, com chuva ou sem chuva.

Posicionamento midiático

Ontem retweetei um post do @surra que dizia o seguinte: O que eh pior? O Alckmin afirmar q "nao se resolve problemas de enchentes em 24hs" ou nenhum reporter replicar "e em 16 anos?"

Pior é ser uma imprensa que desvia o foco dos reais problemas da atual conjuntura e continua se preocupando apenas com o factual que lhes fornece audiências recordes, sem aprofundar uma temática tão delicada conforme ela necessita ser explorada.

É tão difícil assim buscar a opinião de profissionais e pessoas que tem experiência na área para informar melhor a população e, dessa forma, contribuir para diminuir as catástrofes ou ao menos remediá-las!? Mas não, eles querem heróis, sobreviventes e novelas dramáticas, o público é fiel.

No máximo canais de TV a cabo consultam especialistas em gerenciamento de áreas de risco e em emergências(geólogos, arquitetos e engenheiros) ou seja, gente que vai detalhar o que aconteceu e falar sobre o que pensa estar errado - o que é muita coisa, mas que tem um espaço mínimo na pauta do noticiário.

Nosso preparo para com as enchentes consegue ser pior que o dos países paupérrimos do sudeste asiático que resistem bravamente às monções - Índia, Bangladesh, Sri Lanka, entre muitos outros onde o estado miserável das finanças locais, a altíssima densidade populacional e aí sim a carga absurda de chuvas unidas destroem tudo sem deixar chance para sobrevivência e, de alguma forma, justificam o acontecido.

Aqui morrem pobres, ricos, ricaços, trabalhadores de classe média, turistas e o mais grave, falece a dignidade, sobrevive a humilhação de catar os escombros, puxar a lama com a enxada, chorar os desaparecimentos e as perdas materiais, enquanto os erros grotescos e as medidas paliativas caminham para a eternidade.