sábado, 24 de outubro de 2009

Particularmente público

"Vem, pode vir, devagar. Mais pra esquerda. Isso. Externa tudo, externa tudo. Pronto"

Parece aula de baliza mas na verdade se trata das expressões utilizadas pelos guardadores de carros, cada vez mais presentes nas grandes cidades em busca do seu trocado.

Enquanto o motorista reserva algumas moedas, eles rapidamente se concentram em chamar pelo "cliente" seguinte, mesmo sendo alguém apenas de passagem pelo local.

Divididos em pontos estratégicos, encontram vagas onde elas teoricamente inexistem, fazendo um serviço informal que não necessariamente precisaria acontecer.

O trabalho, comum sobretudo nos finais de semana, quando um sem número de automóveis se espremem nas diminutas ruas e vielas próximas a bares, restaurantes e pontos de encontro, serve de tapa-buraco para os contínuos problemas de estacionamento das metrópoles.

O questionamento que surge se concentra na confusão feita entre o público e o privado.

No caso, começa a partir do suposto direito que cada um desses meninos, rapazes e senhores adota para controlar a entrada e permanência dos bólidos nas vias, ganhando dinheiro para "cuidar" dos mesmos.

Continua porque, ao mesmo tempo, autarquias e empresas responsáveis pelo trânsito permanecem inertes, juntamente com os profissionais do planejamento urbano que deixam de transformar esses gargalos conglomerados em um local aprazível.

Ainda permanece na vertente dos particulares. Despreocupados, grande parte dos motoristas continua fazendo questão de ir com o carro próprio ao local, mesmo sabendo que pode ficar sem ter onde colocá-lo devido aos empecilhos citados.

A partir dessa perspectiva, fica a preocupação.

Se a rua, pública, está dominada por pessoas desempregadas que vêem ali uma chance de se aproveitar particularmente, enquanto que quem devia tomar conta do espaço ou remanejá-lo com verba pública nada faz e nem se preocupa em regulamentar esses caras, de que forma o particular, motorista ou passageiro, deveria proceder?

No momento, continua se rendendo, dando qualquer valor ao guardador. Ambos saem "felizes".

A longo prazo, se reeducando. Levar dois ou três amigos no carro tem muitos benefícios. Cada noite se reveza quem bebe e quem dirige, economiza-se combustível, diminui-se os carros na rua e, de quebra, ainda se conhece melhor pelas conversas antes de chegar ao buteco.

Para agora, e de maneira urgente, se reclama. Exija mudanças! Chega dessa sequência de erros virando bola de neve! Reorganização urbana na pauta. Mas de nada adianta ficar apenas nas palavras. Se mexer e ajudar do seu jeito leva consciência.

Contribua para o bem público, e ganhe o particular de brinde!

De um cara sem carteira de motorista e que mal sabe dirigir, mas nao aguenta mais assistir como passageiro a essa putaria diária!

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Spare me the lecture!

Não, o blog não mudou de língua. O título em inglês, traduzido como: "Me poupe do sermão!" vem apenas introduzir o assunto destaque de hoje, ou que deveria ser, o Dia do Professor.

E por que poupar do sermão?

Em todo o país, alunos fazem homenagens, diretores elogiam, prefeituras concedem prêmios.

Esparramados por alguns pontos, parte dos educadores protesta por condições de trabalho dignas. Na capital paulista, ficam nus para mostrar a real calamidade em que se encontra a classe. Em Porto Seguro, queimam pneus e marcham para pedir agilidade nas investigações do assassinato covarde de dois membros do sindicato local.

Enquanto eles tentam insuflar a rebelião, continuam em voga as reformas desestruturantes, completos retrocessos na educação brasileira, tais como a progressão continuada em São Paulo, as enturmações na Bahia, e a volta da adesão ao ensino religioso nas escolas do Brasil inteiro.

Nos prédios de inúmeras instituições de ensino, placas de zinco, barro e tijolos maltrapilhos tentam de alguma forma manter o local de pé. Dentro das salas de aula, cadeiras quebradas, falta de limpeza e inexistência de material didático complementam a situação deprimente.

Não bastasse todas as condições adversas para trabalhar, tanto as de ordem ideológica e pedagógica como as de organização física do ambiente escolar, nossos professores ainda tem de se submeter a salários de fome, que só se multiplicam porque se dedicam a jornadas duplas e até triplas para ensinar, corrigir provas, preparar aulas.

Muitas são as oportunidades em que se tornam os pais dos filhos de todos, porque estes de casa não vem preparados para aprender, e sim totalmente incipientes em qualquer aspecto educacional. Além de mostrarem as ciências, a geografia e a matemática, ainda tem de dar conta da etiqueta, do respeito e dos limites de cada indivíduo.

Quando o aluno não vai bem, são os primeiros culpados. Com o bom desempenho da galera, os últimos a serem parabenizados. Se não por quem depende diretamente deles, por aqueles que os consideram heróis de uma causa perdida. E que se continuar com esse tratamento, vai se perder mesmo.

Esta causa maior é a educação. Sempre lembrada nos discursos de políticos em campanha, idem nas propagandas de bancos e ong's como maior patrimônio que uma pessoa pode ter. E que cuidado existe com esse patrimônio, jogado às traças, abandonado sem a menor perspectiva?

Como não, anúncios de muitos investimentos públicos e privados, com a participação especial do terceiro setor para possibilitar a distribuição da verba?

Poupe-me do sermão! Eu quero ver o sistema funcionar.

Chega de discurso bonitinho e de postura superficial!

Porque enquanto quem mais se importa com a educação continuar relegado à sarjeta, cada vez mais o dia 15 de outubro vai ter, ao invés do ode ao conhecimento, o lamentar em relação à circunstância periclitante pela qual passam esses profissionais, eternos na sua luta, mas com prazo de validade na paciência para com esse caos.

sábado, 10 de outubro de 2009

Embalos musicais de condomínio - Sem cortes

No momento em que escrevo este post, uma festinha animada rola na área de lazer do Prédio onde vivo em Salvador.

Felizmente ou não, as canções entoadas nela deram a idéia para que pensasse ou tentasse entender, mesmo sem conhecimento técnico, teórico ou prático do musicar, porque em toda bendita celebração desse naipe se tocam sempre as mesmas coisas.

Ou porque não contentes, os artistas de ocasião ainda destroçam músicas belíssimas com suas toscas performances.

Acabei de ouvir vindo dali um cover de Moraes Moreira, grande cantor e compositor, chutado numa repetência desafortunada de Anunciação. Tudo no tecladinho, nada de violão ou percusssão, pra que?

Antes dele, Armandinho(Quando Deus te desenhou, ele tava namorando...haja paciência), Skank, Lulu Santos, e claro, como não poderia deixar de ser, a clássica Whiskey a Go Go, típica de formaturas e sempre irritante originária de um tal Roupa Nova.

Devem seguir a elas uma quase nunca tocada Chão de Giz, não sei se pensada como Elba ou Zé Ramalho, mas executada como se fosse Banda de Churrascaria vazia.

Uma mania insistente de misturar alhos com bugalhos, querer criar um ambiente agradável para comemorar o que der na telha através de trilha sonora chamada de "MPB".

Paro para pensar, reflito e disparo. Será culpa dos pobres tocadores de qualquer coisa que insistem em usar como base para seus shows particulares essas composições de maneira inadequada e incoerente?

Ou é a música brasileira que precisa se reinventar e descobrir novas experiências para que não sejam sempre as mesmas canções a serem lembradas na hora de esses relapsos ensaiarem para o baile do prédio?

Porque quem acompanha não tem nada a perder. Tá ali nos seus uísques, cervejas e dancinhas desajeitadas. Apenas seguem o ritual como cordeirinhos.

Enquanto tento encontrar a resposta, começa a Sessão Jovem Guarda, com Robertão tomando a frente nas mais roqueiras e também românticas. Muito respeito nessa hora!

E daqui a pouco vem o brega. Está formada a salada. Para quem achava que ficar em casa no sábado à noite era perder uma balada, eu não gasto um centavo e curto um bailão que continua bombando.

Encerrando por aqui em grande estilo com o mestre Fábio Júnior. "Demorei muito pra te encontrar, agora eu quero só você" e seu fiel discípulo Richie. "Meia noite no meu quarto, ela vai subir". E o nível, descer mais ainda.

domingo, 4 de outubro de 2009

Notícia velha

Gostaria muito de fugir da temática relacionada à violência urbana.

Tratar de discussões relacionadas às olimpíadas no Rio de Janeiro, a morte de Mercedes Sosa ou o golpe em Honduras. Tão amplas e importantes quanto.

Porém um acontecimento recente que envolveu este blogueiro acabou por determinar a escolha da pauta na frente em que se colocaram as duas postagens anteriores.

Tive a carteira roubada. Nela estavam documentos diversos, R$10, cartões, entre outras coisas existentes em qualquer carteira.

O local foi o show do Capital Inicial, de graça na Praça Castro Alves, realizado no domingo passado. Antes, Pepeu Gomes e banda local.

Nem bem começou a primeira música dos caras, apareceu uma mão em meu bolso que não teve como ser segurada. E lá se foi o prejuízo.

Perdi o show, a carteira, a chave de casa, a calma, e quase a dignidade. Com a ajuda de um amigo, consegui um lugar para dormir e o dinheiro do "busão" pra voltar pra casa.

Policiais consultados. "Aqui não é lugar para trazer carteira". "Procure a delegacia do turista" - a pé, claro, 15 minutos até chegar a Deltur do Pelourinho.

Destaque do Jornal A Tarde da segunda, o show foi ovacionado, e citado como "sem registro de incidentes". Ahn!? Incidente não, crime oras, que m... de lei é essa?

E não fiquei sozinho. Na delegacia, logo depois de mim chegaram mais dois com o mesmo problema vindos do mesmo lugar. Claro, não houve qualquer incidente - deve contar apenas assassinato. Ou prisão de um rapaz que fuma maconha, como foi o caso da semana anterior no Parque da Cidade, quando do show da Banda Retrofoguetes. Esse o jornal citou.

Lá também fui com minha carteira.

Na mesma noite do furto, de outros pontos da cidade, apareceram na Deltur duas médicas argentinas vítimas de tentativa de assalto com um espeto de churrasco, e um deficiente físico roubado por dois marmanjos e uma adolescente. E o escrivão respirando fundo no aguardo por uma noite longa, que estava apenas começando.

Bizarro!? Não! Normal. Comum. Típico. Característico.

Quem pegou minha carteira, além dos R$10, não levou mais nada. Documentos e cartões cancelados na hora. Deve ter jogado no chão e sumido com o dinheiro.

Bom proveito deve ter feito. Para mim seriam mais três cervejas, uma bobagem. Mas e quanto a RG, CPF, cartão de banco, cartão de ônibus, alimentação?

Perde-se tempo para fazer de novo, paciência nas filas, mais dinheiro para pagar as multas, atrasos em contratos e projetos. Mas o errado era eu, de levar a carteira no bolso, claro.

Para que um efetivo policial de 80 membros em um show? Segurança? Só pompa e muita desinformação. Agora a responsabilidade é minha, que deixei de guardá-la na cueca.

Sou apenas mais um? Muito pelo contrário. Sou um brasileiro, que de qualquer classe social, não tem mais cabeça para enfrentar esse horrendo espetáculo diário.

Pelo menos consigo me expressar. Não sei se corretamente, devido ao espaço de uma semana entre o acontecimento e o texto, mas sistematizando o que foi esse pesadelo.

O também blogueiro Paulo Sakamoto disse certa vez numa palestra que para perceber a realidade que a cerca uma pessoa precisava ser vítima de um assalto.

Coincidentemente, na noite anterior eu havia sido. Um garoto de no máximo 11 anos de idade pulou do meio do mato me ameaçando com um revólver.

Muito engraçado não? Pelo menos foi o que toda a sala que assistia ao relato dele achou.

Não sou dono da verdade. Nem conheço a tal "realidade" como a apregoada nesse exemplo. Só quero deixar de ser, assim como todas as vítimas cotidianas da violência, uma voz que não ecoa.

Minha família não é abastada. Não ando com roupas de grife nem tenho vida de conforto. Trabalho como qualquer um, mas não vou ser mais estatística como qualquer um.

Venho mostrar, nessa experiência infelizmente in loco, que enquanto governo, imprensa, polícia e outros setores continuarem se omitindo, a tendência desses casos é só aumentar.

E vão crescer alcançando não só a "elite". Qualquer um que saia na rua já é um potencial furtado, roubado ou assaltado.

"Você precisa de alguém, que te dê segurança, senão você dança", já dizia a letra da música. Dancei, desajeitado, e não recomendo o passo ensaiado a ninguém.