O Rio de Janeiro continua o palco principal do show midiático da polícia e dos criminosos. É o verdadeiro Big Enemy, onde a eliminação pelo concorrente custa a perda da própria vida. Para quem mata, a fama.
Nove anos, dois meses e 13 dias depois da seqüência dramática da morte da professora Geisa dos Santos, quando ela era refém do ex-menino de rua e assaltante do ônibus da linha 174 Sandro Barbosa do Nascimento, ontem foi a vez de um novo episódio da saga na carnificina carioca.
Câmeras postadas, luzes acesas, microfones ligados. Tudo pronto para acompanhar mais uma tragédia brasileira. Ao vivo, como não!?
No roteiro, Sérgio Pinto Júnior, 24 anos, foi morto por um atirador de elite após manter refém a comerciante Ana Garrido, o dobro de sua idade e o quádruplo de terror perante a granada que o rapaz ameaçava explodir.
Antes disso, ele tentara assaltar uma kombi dos correios, quando já havia sido baleado na barriga. A cena terminou com a multidão aplaudindo, após o tiro certeiro que matou Sérgio e preservou Ana, final bem diferente do programa anterior.
A granada permaneceu intacta.
O assaltante de ontem não é um sobrevivente da chacina da Candelária, como o era Sandro, que ainda garoto escapou por pouco das investidas de policiais criminosos e sete anos depois despejou sua fúria sobre uma inocente.
Geisa, grávida de dois meses, foi vítima de um tiro que partiu da polícia. Já Sandro morreu em circunstâncias estranhas, supostamente asfixiado no camburão.
A respeito de Sérgio por enquanto só se sabe que tinha ligações com criminosos, fora preso duas vezes, e segundo a refém não queria estar na cadeia de novo.
De diferente nas duas histórias, a presença cinematográfica de um herói e do que tentou ser, mas errou. Ontem, o Major João Busnello, ex-BOPE, sniper, que alvejou o assaltante com sua “visão privilegiada e mira telescópica”.
Lá no ano 2000, quando o atirador não agiu, o soldado Marcelo Oliveira decidiu por si só se mexer, e o resultado do balaço da sua 9mm foi trágico. Mesmo absolvido junto com os colegas dois anos depois, ele ainda deve carregar o peso da morte de Geisa.
Mas quem constrói o heroísmo é a nossa imprensa, com suas técnicas apuradas para convencer quem assiste, lê ou escuta. Não precisamos de heróis ou vilões, queremos ação e uma vida digna, apontar e construir soluções a médio e longo prazo.
Marcelo, João, Sandro, Sérgio, Geisa, Ana. Seis personagens, cada um de uma origem, escalados para atuar em um filme que queremos parar de assistir.
Outra forma de ver o acontecido: http://modestocabotino.blogspot.com/2009/10/para-ingles-ver.html#links