sábado, 26 de setembro de 2009

Ônibus 174 versão 2009

O Rio de Janeiro continua o palco principal do show midiático da polícia e dos criminosos. É o verdadeiro Big Enemy, onde a eliminação pelo concorrente custa a perda da própria vida. Para quem mata, a fama.

Nove anos, dois meses e 13 dias depois da seqüência dramática da morte da professora Geisa dos Santos, quando ela era refém do ex-menino de rua e assaltante do ônibus da linha 174 Sandro Barbosa do Nascimento, ontem foi a vez de um novo episódio da saga na carnificina carioca.

Câmeras postadas, luzes acesas, microfones ligados. Tudo pronto para acompanhar mais uma tragédia brasileira. Ao vivo, como não!?

No roteiro, Sérgio Pinto Júnior, 24 anos, foi morto por um atirador de elite após manter refém a comerciante Ana Garrido, o dobro de sua idade e o quádruplo de terror perante a granada que o rapaz ameaçava explodir.

Antes disso, ele tentara assaltar uma kombi dos correios, quando já havia sido baleado na barriga. A cena terminou com a multidão aplaudindo, após o tiro certeiro que matou Sérgio e preservou Ana, final bem diferente do programa anterior.

A granada permaneceu intacta.

O assaltante de ontem não é um sobrevivente da chacina da Candelária, como o era Sandro, que ainda garoto escapou por pouco das investidas de policiais criminosos e sete anos depois despejou sua fúria sobre uma inocente.

Geisa, grávida de dois meses, foi vítima de um tiro que partiu da polícia. Já Sandro morreu em circunstâncias estranhas, supostamente asfixiado no camburão.

A respeito de Sérgio por enquanto só se sabe que tinha ligações com criminosos, fora preso duas vezes, e segundo a refém não queria estar na cadeia de novo.

De diferente nas duas histórias, a presença cinematográfica de um herói e do que tentou ser, mas errou. Ontem, o Major João Busnello, ex-BOPE, sniper, que alvejou o assaltante com sua “visão privilegiada e mira telescópica”.

Lá no ano 2000, quando o atirador não agiu, o soldado Marcelo Oliveira decidiu por si só se mexer, e o resultado do balaço da sua 9mm foi trágico. Mesmo absolvido junto com os colegas dois anos depois, ele ainda deve carregar o peso da morte de Geisa.

Mas quem constrói o heroísmo é a nossa imprensa, com suas técnicas apuradas para convencer quem assiste, lê ou escuta. Não precisamos de heróis ou vilões, queremos ação e uma vida digna, apontar e construir soluções a médio e longo prazo.

Marcelo, João, Sandro, Sérgio, Geisa, Ana. Seis personagens, cada um de uma origem, escalados para atuar em um filme que queremos parar de assistir.

Outra forma de ver o acontecido: http://modestocabotino.blogspot.com/2009/10/para-ingles-ver.html#links

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Violência gratuita

Notícias veiculadas em jornais, rádios e emissoras de tv de Salvador e de todo o Brasil quando dos incêndios de ônibus coletivos na cidade, ações colocadas em prática a partir do tão flamejado 7 de setembro, ainda despertam a atenção.

Polícia e governo adotaram a versão oficialesca, ratificada pela imprensa local, de que os ataques foram motivados exclusivamente pela transferência do traficante Cláudio Eduardo Campanha para o Presídio de Segurança Máxima de Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul.

Mas quem vive em bairros humildes da capital baiana tem um conhecimento diferente sobre o caso. Representantes de movimentos de contestação na periferia confirmam que a ação dos incendiários já era esperada por outro porém, também visto nas cadeias.

O pavio acendeu a partir das péssimas condições em que se encontram os detentos nos presídios do estado, segundo um Coordenador de Associação de Amigos e Familiares de Presos.

Pagar a pena pelo crime cometido, ser reeducado e reintegrado à sociedade sim. Viver engaiolado e espremido, sem condições de higiene, alimentação e sociabilidade, não.

Que a incomunicabilidade e a indisponibilidade do traficante para com seus companheiros de fora da prisão foi o estopim, não há como negar.

Mas omitir a informação de que os centros de detenção da Bahia e do país deterioram ainda mais a vida de quem adentra as grades, é esquecer da principal função dessa tão recalcada mídia. Defender o interesse público.

Pobres são as pessoas que pegam o transporte com medo, sem saber de que, e não compreendem de onde parte tamanha violência. Simples como um espelho. Ela reflete aquela que lhe é cometida. Só que a única a aparecer é a reação, o ônibus em chamas, nesse momento.

Enquanto a imagem de origem, absurda e incompatível com uma sociedade dita democrática, permanece fora de foco, ignorada completamente pelos que tem de lhe trazer a nitidez.

Créditos
Imagem 1: Estadao.com.br
Imagem 2: Radiosociedadeam.com.br

Escancarando os trabalhos

Depois de inúmeros papos com um grande amigo decidi, enfim, colocar o blog "no ar". Desde os tempos em que iniciei a faculdade - e lá já se vão mais de cinco anos - sempre considerei esse espaço virtual um antro de pseudo-intelectuais.

Pensava que inserida nele minha contribuição, devido ao excesso de masturbadores do intelecto, seria colocada na vala dos comuns, independente das considerações a respeito de qualquer pensamento, opinião ou assunto que fosse abordado.

Entretanto, devido ao grande período em que permaneci hibernado, vítima das rédeas do mercado de trabalho jornalístico tradicional, observei na oportunidade do diálogo com o camarada a faísca que faltava para explodir e criar o Combustão Instantânea.

Sim, os que se consideram dotados de poderes supremos no universo cibernético, e que matam a sede em Wikipedia e orelhas de livro seguem existindo, mas parece bem possível e viável vir aqui quando der vontade e ferver as idéias sem me preocupar com eles.

A proposta do blog é bem clara. Escrever de maneira incisiva, e não resumir as palavras ao estilo intimista e demagogo. Nada de militância, tudo de discussão a portas abertas, e mais ainda de incentivo a ações espontâneas de libertação das pessoas, em qualquer esfera.

Esse não é o meu blog. É o nosso!