terça-feira, 14 de agosto de 2012

Expansão de vagas nas federais: O engodo que não mata a fome de conhecimento

Laboratório improvisado em banheiro da Universidade Federal do Pampa, no Rio Grande do Sul

A farsa da estratégia do governo federal para elevar o número de vagas nas universidades federais finalmente veio à tona, com cinco anos de atraso, mas veio.

O jornal O Estado de São Paulo, em sua edição desta terça-feira, 14/08, traz reportagem que comprova com depoimentos e dados as teorias e previsões que nós, pobres mortais integrantes do movimento estudantil, pregávamos em 2007, quando foi lançado o Reuni, o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais.

Dados do MEC mostram que, de 2006 a 2010, o número de cadeiras oferecidas nessas instituições saltou  de 148.796 para 242.893, crescimento de 63%.

A disparada foi resultado direto da aplicação do plano, que no entanto esconde a degradação de um elemento essencial para sua eficiência: a infraestrutura dos campi.

O Ministério da Educação diz que investiu R$9 bilhões de reais no projeto, mas ao que parece se esqueceu de destinar parte dessa verba à construção e ampliação de bibliotecas, laboratórios, restaurantes e principalmente à contratação de novos professores e valorização dos docentes que já lecionam.

Por sinal, investir nesses setores era um dos objetivos do Reuni, não só em termos de contrato e diretriz estabelecida junto às universidades, mas como base de sustentação para  a expansão qualitativa das vagas, justificando a entrada de mais estudantes por existirem, nos campi, salas de aula e todos os demais equipamentos de pesquisa, além de profissionais suficientes e preparados para recebê-los.

Mas não foi bem assim que aconteceu.

Alardeando aos quatro cantos do mundo e aos sete mares sua empreitada, o governo criou, no período em questão, 14 novas universidades, 126 novos campi e incríveis 1.128 novos cursos.

Boa parte dessas graduações foi direcionada para unidades já existentes, que tinham prazo curto para enviar ao MEC projetos de ampliação que pudessem ser contemplados pelos recursos do Reuni.

Sucateadas durante toda a administração FHC e Paulo Renato, durante os anos 90, as universidades viam no plano a oportunidade de angariar dinheiro para promover obras necessárias ao seu pleno funcionamento.

O que se viu na gestão de Lula e Fernando Haddad, todavia, foi um inchaço absurdo das vagas existentes nessas instituições sem o devido acompanhamento dos gastos com seus pilares fundamentais.

Se antes o PSDB excluía a maioria da população do processo e deixava as federais a deus dará, agora o PT resolveu incluir as pessoas, mas sem dar condições para que elas possam estudar.

A tese de doutorado da professora Kátia Lima, da Escola de Serviço Social da UFF, do Rio, traz algumas estatísticas de extrema relevância sobre essa explosão espontânea.

Entre 2006 e 2010, a Universidade Federal Tecnológica do Paraná expandiu em 601% o número de vagas em suas instalações. Na UFTM, em Minas, foram 313% e na UFRB, na Bahia, 277%.

Mesmo não sendo exemplo em todos os campi, o ritmo de expansão das obras foi bem menor que o da criação de novas cadeiras,  e, conforme as denúncias que veremos a seguir, tem sua lentidão corroborada pelas  péssimas condições estruturais desses espaços.

Isso porque tanto as antigas unidades quanto as recentemente abertas são alvo de calamidades que afrontam os princípios mais básicos da segurança e da higiene, para dizer o mínimo.

Na Federal de Arapiraca, em Alagoas, o campus fica ao lado de um presídio. Em Santarém, no Pará, a reitoria alugou um prédio abandonado onde funcionava um hotel para atender os alunos.

Na sede da Unifesp em Guarulhos, onde 70% dos estudantes não mora na cidade, a faculdade fica tão longe do centro e carece tanto de transporte público, que a taxa de evasão disparou.

Na  UnB, em Brasília, estudantes de terapia ocupacional têm aulas em salas de uma escola de ensino médio, onde dividem espaço com adolescentes.

Em outras universidades ainda há laboratórios instalados em banheiros, paredes de salas com rachaduras, órgãos de animais cobertos por larvas devido à falta de formol, dentre outras precariedades e improvisações sem limites para o ridículo.

Agora pensemos de que forma as pessoas que lidam diariamente com essa pasmaceira vão sair do ensino superior. Qual o preparo terão para atender aos requisitos de sua profissão!?

O descaso pode ser comprovado pelas fotos registradas por toda a comunidade acadêmica, que, cansada de ser vítima desse engodo, batalha há mais de dois meses em uma greve que a presidente Dilma Rousseff e a imprensa insistem em tratar como mera campanha por reajuste salarial.

De plantão em Brasília, eles exigem a reabertura das negociações sobre o plano de carreira da categoria e protestam hoje e amanhã na Esplanada dos Ministérios.

Os direcionamentos para este tema são muitos, mas a análise fria dos fatos é uma só.

A educação não sobrevive de índices numéricos alcançados pelo governo para mostrar ao Banco Mundial que tem direito de exigir mais crédito e investimentos e direcioná-lo a outros setores.

Este alicerce da sociedade precisa de "sustança", constituída por todos os elementos físicos e humanos que garantem o atendimento integral das demandas de quem ingressa no ensino superior, e que está ansioso por ter acesso ao conhecimento e poder difundí-lo ao mundo, de forma a beneficiar a todos.

Mas no que depender do Reuni, os estudantes vão morrer de desnutrição, quando não de indigestão com o que tem de engolir.

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