terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Os inimigos da universidade pública agora são vários outros

A Justiça de São Paulo decidiu condenar o vice-diretor superintendente do Centro Paula Souza por utilizar a estrutura da Faculdade de Tecnologia(Fatec), de Sorocaba, para ministrar cursos pagos.

O professor César Silva presidia uma fundação privada que, a cada semestre, oferecia pelo menos mil vagas ao custo de 13 mil reais em especializações executadas nos laboratórios e salas da faculdade pública, comandadas por professores concursados que recebiam um "extra" se entrassem no esquema, usando o nome da Fatec para atrair as pessoas.

Os estudantes faziam o curso e ainda recebiam certificado com o logo da instituição, mas o documento não vale PORRA NENHUMA, porque afinal o curso é uma fraude.

Depois do escândalo, eu pergunto ao Ministério Público, responsável pela ação: "Por que ainda não começou a investigação sobre os docentes e as fundações da UNESP!?"

O campus de Bauru que o diga, antro de diversos aproveitadores, principalmente na Faculdade de Engenharia, que usam o bem público visando lucro e que jamais foram questionados pela prática criminosa.

Em tempo, o docente e seu coleguinha Marcos Garcia Costa, ex-diretor da Fatec Sorocaba, terão de ressarcir os alunos, a faculdade e o Estado por todos os benefícios obtidos de maneira irregular.

A Fundação FAT, criada em 1987, também foi extinta.

Mas o inimigo agora é outro meu amigo.

Ressalta no acórdão o desembargador Magalhães Coelho: "No simulacro, tudo se resolve: os professores são contemplados com vencimentos dignos, e o Estado se desobriga de manter responsável pela política salarial para os professores, tudo ao arrepio do regime jurídico-administrativo".

O que nos leva à conclusão, isenta de maiores devaneios, que o projeto privatista do governo de São Paulo nas universidades públicas segue a todo vapor, sem pedir licença nem medir consequência de seus atos.

Apesar do problema, a Justiça ainda profere votos favoráveis às iniciativas das instituições particulares incrustadas na USP, colocando como prioridade o suposto acesso que dão a mais pessoas sem entender os prejuízos que causam tanto aos cofres públicos quanto à difusão do conhecimento.

Esse plano tem o objetivo claro de desonerar o orçamento estadual em relação aos salários dos docentes, ao mesmo tempo em que desencoraja a contratação de novos mestres e doutores, completando o desastre ao obrigar os melhores integrantes da academia a irem para as fundações e faculdades particulares, onde a remuneração é mais gorda.

E o pior de tudo. Toda essa estratégia está sendo desenvolvida sob a tutela da lei, com base no argumento de que as universidades estaduais e federais - onde os casos também existem, não possuem capacidade para absorver o contingente estudantil ávido por uma especialização de nível superior.

Em busca de emprego, quem opta por fazer um curso pago dentro da universidade pública, ao mesmo tempo em que é enganado pela promessa vazia e fraudulenta de um certificado emitido pela reconhecida instituição, ainda colabora para a manutenção dos interesses das grandes corporações que patrocinam essas iniciativas.

Essas pessoas se somam à já imensa massa de manobra desesperada por um trabalho a qualquer custo, aprendendo a respeito de temas atrelados às características específicas desse mercado, que por ser desprovido de vínculos com a academia e a comunidade que gira em torno dela, deturpa completamente as origens dos estudos promovidos pela instituição.

É essa lógica, a da selvageria perpetrada pelas empresas para modelar seus futuros funcionários ursurpando e sugando a estrutura da universidade, que se desenha mediante traços horrendos no futuro de nosso país, onde esse desvio da finalidade é comemorado em prol do perfil tecnicista que os governos estaduais e federal pretendem espalhar e alienar a população através de trabalhos aviltantes, que lhes proporcionem um perfil consumista, mas que intimidem qualquer tentativa de se subverter a ordem já estabelecida.

O caso identificado e punido na Fatec de Sorocaba por enquanto é encarado como o exemplo de docentes que se desvirtuaram do real intuito das parcerias, tidas como legalizadas em sua essência, porém imorais nas profundezas de suas realizações.

Logo ficará claro que a atitude desses professores se trata de um mero reflexo do sistema que concordaram em seguir, dotado de propostas desonestas e mentirosas para com o contribuinte que banca o seu funcionamento, e que assiste impassível ao benefício de poucos privilegiados com condições de custear estudos que deveriam ser acessíveis a todas as camadas da sociedade.